Apresentação de um projecto singular

Apresentação de um projecto singular

03/04/2005 0 Por hernani

Apresentação de um projecto singular

Grupo Coral Vozes Maduras

“Nesta geração mais velha, nota-se-lhe uma musicalidade diferente daquela dos jovens que não ligam muito às coisas mais simples; é uma musicalidade que está patente em todas as cantigas portuguesas que fazem parte da tradição de toda uma cultura, e que vai ao encontro daquilo que eles gostam”.

A apresentação do Grupo Coral Vozes Maduras” na sede da SFUPA, em Abrigada, no passado dia 3 de Abril de 2005, constituiu um acontecimento assinalável no panorama cultural do concelho de Alenquer, ao mesmo tempo que estabeleceu um evento verdadeiramente histórico, não só pelo contexto em que se realizou, mas também pela qualidade musical, profissionalismo e emoção que cercaram todos os seus elementos.

Histórico, porque é o segundo grupo coral do concelho de que temos notícias; contexto, porque este grupo é constituído por homens e mulheres a maioria nascidos em 1939; qualidade musical, porque o seu repertório não só contempla o cancioneiro popular português, maioritariamente, com todo o seu encanto, magia e originalidade, mas também obras mais eruditas como as de Handel; profissionalismo porque, embora nenhum elemento tenha formação musical, o grupo assimila muito depressa o que lhe é proposto; emoção, porque verdadeiramente o que lhes interessa é o que vem para além do “brincar com as cantigas”, isto é, o convívio e a amizade entre todos.

Foi agradável ouvir o seu primeiro tema, Ó rama, ó que linda rama, uma tradição da música popular alentejana. Depois foi um desfilar por esse Portugal profundo: Senhora do Almortão, uma canção popular recolhida em Idanha-a-Nova e que integra o folclore da Beira Baixa. Seguiu-se um salto ao Minho com Saia Velhinha, uma recolha feita em Marrancos, em 1970.

As duas interpretações que se seguiram reportam-se à Estremadura, a primeira Don Solidon, e a segunda, A Pastorinha, um tradicional incluído no Cancioneiro de Entre Mar e Serra da Alta Estremadura.

Este desfilar por terras portuguesas terminou com Menina se bem me queres, um tema incluído no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

A segunda parte começou com Vamos Plantar Primaveras, uma canção popular inglesa. O sarau encerrou com o cântico religioso Canticorum Jubiilo, de Greg Friedrich Handel.

Ao comando de todo este entusiasmo está Paulo Santana, maestro da banda da SFUPA, desde 2001.

“Este é um grupo que já costumava reunir de tempos a tempos. Fazia excursões onde costumava brincar com as cantigas. Já há muito tempo que eles tinham a ideia de criar qualquer coisa assim. Como estou a residir em Abrigada, vieram convidar-me; gosto muito de música, de que sou profissional, e se há coisa que me dê prazer é trabalhar naquilo que é o meu ramo. Respondi-lhes logo que sim”.

E disse-nos, ainda: “Isto começou por uma pequena brincadeira e à conta dela começou a ganhar outros contornos. É claro que para ser um «coro a sério» ainda há muito trabalho a fazer, mas partindo do ponto de vista de que é tudo gente já com uma certa idade, que nunca trabalhou na música e que faz isto só por carolice, penso que o resultado apresentado já é alguma coisa”.

Acrescentou:

“As dificuldades não têm sido muitas, pois apesar de ninguém ter formação musical, eles assimilam muito depressa, e depois, nesta geração mais velha, nota-se-lhes uma musicalidade diferente daquela dos jovens que não ligam muito às coisas mais simples. É uma musicalidade que está patente em todas as cantigas portuguesas que fazem parte da tradição de toda uma cultura, e que vai ao encontro daquilo que eles gostam e, então, consegue-se rapidamente montar uma obra”, exclamou entusiasmado.

Paulo Santana nasceu em 1966 em Alegrete, Portalegre, Alto Alentejo, região tradicionalmente rica em grupos corais. Apesar disso esta é a sua primeira experiência com coros. “Não deixo de ser um músico profissional, que tenho a minha musicalidade própria. Já tenho visto coros e a gente vai aprendendo com o que vê”, terminou.

O maestro Paulo Santana tinha apenas 10 anos de idade quando iniciou os estudos musicais. Aos 17 anos ingressa na Banda do Exército onde actualmente é Trompete Solista, Chefe de Naipe e Professor na Escola de Música. A nível académico frequentou o Conservatório Nacional e a Escola Superior Instrumentista de Orquestra, da Orquestra Metropolitana de Lisboa, onde estudou trompa com o Maestro Jean Marc Bourfan. Participou em vários grupos de baile, bandas filarmónicas, orquestras de câmara e sinfónicas.

Dirigiu a banda da Associação Filarmónica Bidoeirense (Leiria), de 1998 a 2003. Dirige a banda da SFUPA (Abrigada-Alenquer) desde Outubro de 2001 e o Grupo Coral Vozes Maduras, desde a sua fundação, Setembro de 2004.

in Jornal D’Alenquer, 1 de Maio de 2005, pp. 17.

©Hernâni de Lemos Figueiredo

Director do Jornal D’Alenquer

hernani.figueiredo@sapo.pt

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