Elogio da Constituição Ateniense
22/02/2024Pequeno exercício retórico sobre o
Elogio da Constituição Ateniense, de Péricles
Péricles (ethos), num discurso epidíctico, faz uso de todas as técnicas retóricas conhecidas à época para convencer a “pólis”, onde tenta influenciar jogando com as emoções dos seus representantes naquela Assembleia (pathos); principalmente faz uso de duas ferramentas aristotélicas, a persuasão e a argumentação retórica. E, repetitivamente está sempre a argumentar com entinemas (exemplos), silogismos cujas premissas ora são apresentados como sendo de estilo afirmativo ora como de estilo negativo. Aqui o obrigatório será o elogio da Constituição ateniense (logos), assim como dos cidadãos da “polis”, como dos seus “valorosos” antepassados (pathos).
Ele indica primeiramente no seu discurso (logos), qual a prática, qual o regime político e quais as normas que levaram Atenas àquela situação de poderio, e só depois passa a fazer o elogio da cidade e dos seus cidadãos (pathos), começando precisamente pelos “nossos maiores”, dirigindo-se obviamente aos antepassados.
“Estas terras foram sempre os mesmos habitantes que, através de gerações, a foram entregando uns aos outros, mantendo-a livre, graças ao seu valor. “(p1)
Faz recurso da argumentação retórica quando diz que
“o regime político (logos) que nós seguimos não inveja as leis dos nossos vizinhos, pois temos mais de paradigmas para os outros do que de seus imitadores”, referindo à Democracia, onde “há igualdade perante a lei” e onde “não se dá preferência nas honras públicas pela sua classe, mas sim pelo seu mérito”. (p2)
Mais abaixo, faz recurso aos meios técnicos da argumentação quando enaltece a ética (ethos) do povo ateniense (pathos) e diz que
“temos receio de fazer transgressões, pois damos ouvidos aos que se conservam no poder e às leis…”; (p2)
Isto é, dava ouvidos precisamente àqueles que estavam a ouvi-lo naquele momento (pathos) e às leis por eles feitas (logos), “especialmente àquelas que foram estabelecidas para socorro dos oprimidos”. Péricles, como orador, com a sua persuasão, leva a assembleia (phatos) à paixão e à emoção.
Aqui apela a um meio não técnico, uma prova das possibilidades para repousarem das fadigas.
“…Temos competições e sacrifícios tradicionais pelo ano fora, belas casas particulares, cujo encanto próprio expulsa dia a dia os aborrecimentos. Devido à grandeza da cidade, afluem aqui todos os produtos da terra inteira, e acontece que desfrutamos dos bens locais com não menos familiaridade que dos outros países.” (p2)
Péricles socorre-se do seguinte entinema:
“E, na educação, os outros, logo desde a juventude, praticam exercícios penosos, procurando alcançar a força viril; nós, porém, que levamos uma vida sem constrangimento, não corremos com menos ardor ao encontro de perigos à altura das nossas forças.” (p3)
A – “Os outros, logo desde a juventude, praticam exercícios penosos, procurando alcançar a força viril”.
B – “Nós, porém, que levamos uma vida sem constrangimento, não corremos com menos ardor ao encontro de perigos à altura das nossas forças”.
C – “Força viril” e “ardor”.
Se A=C e B=C, logo seria A=B
Mas não; apesar de se partir da verdade do geral (“C”) para a verdade do particular (“A” ou “B”), isto é, de uma dedução, estamos em presença de um silogismo onde a conclusão é inválida embora as premissas sejam verdadeiras, isto é,
A=C – B=C – A≠B.
Péricles recorre a novo entinema, agora na prova da postura ateniense no confronto bélico com os Lacedónios, mas desta vez preferimos salientar o tipo de meio argumentativo por ele apresentado, isto é, um meio não técnico.
“Os Lacedónios sozinhos não fazem uma expedição ao nosso território, mas somente com todos os seus aliados, ao passo que nós sem dificuldade invadimos o dos outros, e em terra alheia vencemos a maior parte das vezes os que defendem o seu próprio país”. (p3)
Só a perspicácia do orador sobre a “patologia” da Assembleia (pathos), assim como o seu enorme poder persuasivo, permite a Péricles pronunciar as palavras seguintes (logos):
“…esta cidade, no seu conjunto, é a escola da Grécia (…) É a própria força da cidade que, em virtude destas qualidades, que possuímos, bem demonstra como o que acabo de dizer não é um discurso forjado para estas circunstâncias, mas a verdade dos factos.” (p4)
©Hernâni de Lemos Figueiredo
Programador Cultural
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