Entrevista a… Massimo Esposito, il pittore italiano

Entrevista a… Massimo Esposito, il pittore italiano

30/04/2016 0 Por hernani

Entrevista a… Massimo Esposito, il pittore italiano
Através de um amigo comum, conheci há pouco tempo, em Santarém, Massimo Esposito. Il pittore italiano, como gosta de ser reconhecido; logo me pareceu ser uma pessoa afável, comunicativa, e impossível de não se ficar a gostar dela.

MASSIMO ESPOSITO, il pittore italiano

MASSIMO ESPOSITO, il pittore italiano

Nasceu em Ferrara, Itália, em 1957. É filho e neto de artistas: o seu pai foi um pintor profissional e professor de pintura e o seu avô foi restaurador do Museo di Capodimonte, em Napoli, um antigo palácio da Casa de Bourbon, e do Museo Etrusco de Spina, em Ferrara.

No tempo de estudante, para ter algum dinheiro extra, ia para perto da entrada do Museu Uffizi, em Florença, e fazia retractos das pessoas que ali aguardavam a sua vez de entrarem numa das galerias de arte mais famosas do mundo, para apreciarem pinturas de Michelangelo, Da Vinci, Giotto, Rafaello, Botticelli e muito outros.

Após a licenciatura em Arte no Liceu Artístico de Ravenna, um antigo convento, seguiu-se o bacharelato em Artes Gráficas no Instituto de Arte de Urbino. A frequência da Academia de Belas Artes, de Ravena, também faz parte do seu perímetro de aprendizagem. Hoje, é membro da Sociedade Nacional de Belas-Artes, de Lisboa.

Após um périplo por vários países à procura das “cores do mundo”, em 1986 chega a Portugal e logo se dedica à cópia de antigos quadros para aperfeiçoar ainda mais a sua técnica de pintura a óleo e desenho anatómico. Na procura de liberdade na expressão artística, não prescindiu do contacto com a natureza, e a sua Quinta da Atela, em Alpiarça, que tal Barbizon das cercanias de Fontainebleau, estimulou-lhe o crescimento de um estilo muito próprio. Volvidos 10 anos iniciou um projecto de ensino alternativo de desenho e pintura nas autarquias do Médio Tejo. Conta no seu Currículo a participação em inúmeras exposições individuais e colectivas. Hoje, dirige quatro laboratórios, em Abrantes, Santarém, Entroncamento e Constância.

O Pensamento permite o Homem “modelar” o mundo à sua imagem. Tanto na cognição, como na senciência, como na imaginação, o Homem cria o seu mundo imagético. Tanto ou mais importante saber o que o pintor já fez, o seu percurso académico ou estético, as exposições e os galardões amealhados, é igualmente relevante sabermos o que o pintor pensa, hoje.

Numa análise simplista a parte da sua obra, parece estarmos em presença de um artista Art naif; mas, o seu percurso académico nas Belas Artes e o seu portfólio de Arte, desmente essa observação despreocupada. A sua “ânsia” de participação, fragmentada, multifacetada e hibrida, e o seu frenesim na mistura de géneros estéticos, tornam-no num vanguardista, num experimentalista; em suma, num impressionista pós-moderno. Massimo Esposito considera até o impressionismo como uma “lição de vida”, e questiona se não será preciso o aparecimento de um novo impressionismo.

Também me parece que, em certa altura, parte da sua pintura se afasta do impressionismo e se aproxima da primeira fase de Van Gogh, outra das suas referências predilectas, com a ausência dos cânones tradicionais, como uma desobediência a uma ordem pré-estabelecida, principalmente pela ausência de cores vivas e quentes, sobressaindo, por outro lado, os tons monolíticos e sombrios. Nesta mistura de correntes estéticas vanguardistas, o surrealismo estará presente em parte da sua obra, não tanto pela ausência de lógica nas diversas combinações pictóricas, como também pela sua dimensão onírica.

Apesar de Caravaggio ser uma das suas referências estéticas, a obra de Massimo Esposito não inclui temas de cariz religioso, porque o pintor é profundamente crente e nutre um grande respeito pela Bíblia: “Deus não gosta de imagens que possam desviar a atenção da adoração pura”. Além disso, a sua obra diferencia-se claramente da primitiva função religiosa da pintura, sendo continuadora da Belle Époque, ao integrar-se quase exclusivamente na indústria cultural como uma pintura para o mercado, transformando-se num kitsch para auto-satisfação de um público conhecedor de Arte. Massimo Esposito não descura a qualidade do seu trabalho, pois com fantasia e técnica o artista produz Arte. Aliás, Massimo Esposito ama a Arte e vive com a Arte e para a Arte.

Não perfilha a ideia de Delacroix,”…nem sempre a pintura precisa de um tema”, mas já leva a sério Renoir e Monet, duas outras referências suas: “a realização de obras agradáveis aos olhos” do público, principalmente quando se trata de obras encomendadas. Aproxima-se assim de um outro movimento estético, Arts & Crafts, como alternativa à produção em massa e defendendo o termo da diferenciação entre artista e artesão. O pintor que pinta para o dinheiro será um “artista” da pintura, um artista não real, ou um simples artesão dotado ou não na “arte” da pintura”? Para Massimo Espósito, “o pintor que pinta para o dinheiro não pode ser considerado um artesão simples, (…) deve ser considerado em todos os aspectos um artista”.

Enquanto artista tem-se dedicado à exploração de diversas técnicas, azulejo, pintura a óleo, desenho anatómico, desenho sépia aguarelada e ponta de aparo com que depois reproduz em litografias. A fotografia e a cerâmica são algumas das técnicas em que se especializou, sobretudo o retracto, a fim de criar um portfólio de imagens. Mais recentemente está a pesquisar a aguarela com vinho tinto e obras em azeite e cortiça; o desenho de figura humana com modelos profissionais e a body painting não lhe são estranhos, também.

Massimo Esposito considera o desenho como base da pintura; por isso a sua satisfação quando encontrou, há pouco, um livro que há muito procurava. Ao ler, paulatinamente, o livro “Desenhando com o lado direito do cérebro”, de Betty Edwards, regressou ao passado; às aulas em Ravena, com o professor Ruffini, e às muitas horas “ao cavalete” a desenhar esculturas gregas e renascentistas. Também se lembrou da dificuldade de trazer a “Academia” a um nível prático e moderno, quando começou a dar aulas de desenho, apesar de utilizar os métodos adoptados neste livro, como Ver os desenhos ao contrário, fazer desenhos ao contrário e desenhar tudo o que aparece (copos, parafusos, caras, ossos, troncos e sobretudo mãos), sem achar isso difícil.

Desde o início da expressão artística, nascida com o homem, a Arte sempre foi uma forma de comunicação. O artista inspira-se, “sente” algo, e transmite-o em pinceladas. Primeiro, melhora a sua criação; depois, aperfeiçoa-a; finalmente, fica feliz ao ver a obra completada. Chegou o momento de mostrar a sua criação; aqui, a exposição numa galeria é o momento sublime de atestar se os sentimentos transmitidos pelas suas pinceladas estão a ser apreendidos pelo público. É aqui que a comunicação entra. Como comunicação artística, a exposição é uma forma de comunicação de massas. Mas, se não houver esta comunicação, se as possíveis propostas sugeridas pelo artista estiverem ausentes ou forem imperceptíveis, se o público não vislumbrar um sentido estético na obra exposta, então haverá pouca informação. Para Massimo Esposito, aí estaremos em presença de uma “exposição muda”.

30.4.2016 – Massimo Esposito apresenta a Exposição Colectiva dos alunos do último Workshop “Pinturas com Azeite”, por si ministrado, nas instalações do INATEL, de Santarém.

Massimo Esposito é um adepto fervoroso da cultura de massas. Funda o laboratório de ensino de desenho e pintura Il Pittore Italiano, Lda, com sede em Abrantes, onde ensina pintura e desenho; Cria diversos laboratórios de desenho e pintura, quer para adultos, quer para jovens e crianças, quer para idosos, quer para pessoas com diferentes aptidões; Organiza workshops e exposições; Desenvolve projectos de turismo cultural e realiza eventos culturais e reconstituições históricas; Colabora com diversas entidades culturais e câmaras municipais; assegura a função de Art-director de Galerias de Arte; Ainda, colabora com a imprensa regional com diversos artigos sobre arte e cultura, em geral.

Massimo Esposito é um verdadeiro vanguardista; está sempre bem lá na “frente”. Vamos conhecê-lo melhor, agora em discurso directo.

Quais as correntes artísticas reflectidas na sua pintura?
Como formação, com certeza a Renascença Italiana, mas com muitas influências do Surrealismo e Realismo post-moderno.

Quais são as suas referências?
Miguelangelo, Caravaggio, Van Gogh, Renoir, Dalí, Boris Vallejo, Paula Rego, Roberto Ferri e centenas de outros que retractam a realidade sob diversos espectros.

Tem necessidade de transmitir na pintura o seu próprio universo onírico?
Qualquer pintor que extravasa algo próprio com certeza o faz. Eu fiz dezenas de quadros baseados sobre sonhos.

Qual foi o quadro que mais gostou de pintar? Porquê?
Não existe uma resposta a esta pergunta… para simplificar digo que o quadro que gostei mais de fazer foi o ultimo.

Lembra-se da sua primeira pintura? O que ela manifestava?
O meu primeiro quadro a óleo. Que ainda está numa parede da minha casa, é um 30×40 pintado ao ar livre e representa um enorme pombal na Riviera Adriática.

De algum modo, as passagens da sua infância estão reflectidas nos seus quadros?
Não poderia ser de outra forma. O artista que se preze, faz tesouros do que aprende e erra, para prosseguir a sua caminhada. Não posso entender “artistas” que por toda a vida remexem no mesmo tipo de quadro ou ideia, sem progredir.

Qual o tempo máximo que trabalhou numa obra até esta ficar concluída?
Sou pintor que rapidamente finaliza uma obra, mas há algumas que demoram anos, depende do relacionamento que temos com ela. Para mim uma obra é como uma amante, algumas satisfazem rapidamente e chega por aí, outras demoram mais… mas com algumas, temos momentos em que não queremos vê-las ma depois há algo que nos reaproxima.

A cada quadro corresponde uma ideia?
Com certeza. Pode ser também que há quadros que reúnem uma ideia, por exemplo agora estou a trabalhar em quatro obras que se completam. Ma nunca faço algo sem emoção.

As temáticas escolhidas condicionam as técnicas utilizadas?
Às vezes. Se quero realizar quadros sobre o ballet, talvez uso espátula e pastas areadas. Se for paisagem, talvez uma técnica mais pormenorizada. Ou se for figura humana, pode ser pastel seco, carvão ou óleo muito bem trabalhado. E assim por diante.

Tem algum fetiche por alguma obra sua?
Fetiche não, mas nos últimos anos vou incluindo sempre um lembrete ao mosaico bizantino. Estudei em Ravenna, Capital do bizantino, e acho agradável relembrar estes motivos nos meus desenhos e quadros.

Decidiu viajar por África, Ásia e América, à procura das “verdadeiras” cores do mundo. Encontrou-as? Quais são elas?
As cores são muitas. Por exemplo, os amarelos na India apaixonaram-me, e os verdes e vermelhos do Brasil também; mas, em Marrocos e na Tunísia gostei muito das terras (castanhos), e na Finlândia e Estónia os cinzentos são maravilhosos.

Segundo o Génesis, Deus criou o mundo a partir do nada. De onde cria o artista?
Do que Deus criou. Salomão escreveu 3000 anos atrás que “nada de novo há debaixo do céu” e o artista recria, reinterpreta, desenvolve tudo o que o Maior Artista fez na fundação do Universo.

Dizia um mestre pintor chinês do século XVI que o homem pinta uma árvore quando já tem a árvore dentro de si. Quando pinta inspira-se numa temática, num objecto exterior a si, ou é pura exercitação de senciência?
Se for obra encomendada é puro exercício técnico (em geral). Se for obra pessoal o artista vive no quadro.

Trabalha para um estrato social específico? Qual o seu público-alvo?
Eu trabalho para todos os que gostam do meu trabalho, mas sobretudo para expressar algo MEU. Às vezes, a minha esposa diz “mas quem vai comprar este quadro?…”. A mim não interessa, pinto por dever aos meus sentimentos. Se depois encontro uma “alma” que entende o mesmo, a satisfação aumenta.

Que reacções espera que o seu trabalho desperte nas pessoas?
Curiosidade e alegria.

Essas reacções coincidem com o que pretende transmitir no seu trabalho?

Às vezes…sabes… o trabalho artístico é muito intimo e reservado e se alguém… mesmo só uma pessoa gosta… já encontramos uma reacção positiva. Não acredito que tantas pessoas gostam de artistas ou obras porque realmente gostam… muitos fazem isto porque OUTROS GOSTAM, ou por PURA IGNORÂNCIA!

Na actualidade, a Arte sofre de alguma forma os efeitos da cultura de massas?
A ignorância impera. A maioria das pessoas seguem o rasto dos outros, pena que também os outros não sabem, ou pouco sabem. O exemplo da Joana Vasconcelos é gritante. Todos falam dela mas poucos realmente a entendem. Fazem isto por costume “momentâneo” e por pura ignorância (talvez não sabem que ela copia o Jeff Koons e outros artistas de 30/40 anos atrás…); mas, enfim!…Van Gogh não vendeu um quadro, Renoir era rejeitado, Bosch foi esquecido durante séculos!… É la vita!

No projecto “Amor à Arte” diz que “o amor à Arte é algo impalpável, difícil de explicar mas que existe e age com poder”. Apesar da confessada dificuldade de explicação, é capaz de “explicá-la”?
Resposta difícil a pergunta complicada. Ou amas ou não amas. Sentes ou não sentes. Há pessoas que entram numa galeria ou um museu e depois 10 minutos já estão satisfeitos. Outros passam dias e sentem sempre algo em falta. Eu demorei três dias a ver o Prado, passei dias e dias nos Museus Vaticanos ou no Uffizi, a primeira vez que vi o David de Michelangelo demorei quase duas horas. Eu choro às vezes porque sinto o esforço do artista a sua mensagem (síndrome de Stendhal?…); o amas ou não amas!

Que comentário lhe merece a exposição “Echolalia”, da belga Ana Torfs, no Centro de Arte Moderna, da Fundação Gulbenkian?

Não me faz chorar. Não sinto.

Como deve uma galeria ajudar um artista?
Divulgar o seu trabalho e vender obras.

Existe alguma galeria que pense que esteja na necessidade de uma reformulação séria da sua estratégia de relacionamento com os artistas plásticos?

As galerias são pequenas elites… Cada uma gere a sua política.

Pensa que é importante os artistas explorarem formas alternativas de apresentar, e distribuir, o seu trabalho?
Claro! Não sei se sabem mas há galerias que pretendem 60% ou mais sobre obra vendida! Há muitas associações e instituições que tentam… mas o mercado agora está em contracção.

É estimulante para um artista pintar quadros “por encomenda”?

Às vezes… pelo menos a nível económico.

Como analisa a convivência da Arte com a nova media?

Há muitas vertentes positivas de colaboração.

Acredita que há Arte com um consumo estritamente online?
Sim! Para pessoas levianas… Para mim a Arte deve fluir “ab pessoam”. Faço uma ilustração… prefere ver programas gastronómicos ou sentar-se à mesa para comer?

Com certeza conhece os projectos “ARTPORT” e “INTK”. Que comentário merecem?

A Artport é uma ideia interessante mas não sei se vender arte via net possa ser viável… é como comprar um par de calças via net e depois quando chegam não gostamos da textura ou a cor não é a pretendida…a INKT não conheço e nem na net encontrei resposta.

Das inúmeras exposições participadas e prémios recebidos, quais os mais significativos para si?
Quando uma pessoa que não conheço vem perto de mim e diz ”gostei”. Mas uma na Índia me apaixonou pelo interesse verdadeiro demonstrado, visto eu ser completamente desconhecido; vieram e gostaram mesmo do que estava pendurado nas paredes.

Que conselhos daria a quem está a iniciar-se na pintura?

Cuidado! Precisas de persistência e “amor à arte”.

Para si, como é, ou como deveria ser, a relação entre a Arte e a Vida?

A vida é a arte de viver.

Hoje, o que é mais importante na vida de Massimo Esposito?

O que Deus me deu: persistência, técnica e Amor.

Há algo mais que gostaria de transmitir, para finalizar?

Agradeço a todos que me apoiaram ao longo da minha carreira, e a quem realmente AMA A ARTE, que se dediquem a ela sem copiar, sem receios e sem medos — ela é uma amante generosa.


6 PERGUNTAS EXTRAVAGANTES:


Quem deve dar o primeiro passo para a “comunicação”: o artista com o observador ou este com o artista?

O artista.

Começou como “pintor de palavras” e agora também é um “escritor de emoções”. Que motiva um pintor, detentor de um trabalho significativo na arte pictórica, a “imiscuir-se” na escrita?
Depende. Se tem arcaboiço para aturar as duas amantes.

A fotografia e o cinema são desafios para a pintura?
Podem ser encaradas como apoio.

Na sua obra, nota-se a ausência de temas de cariz religioso. Deve-se a algum preconceito teológico?
Eu sou profundamente religioso, respeito a Bíblia; e em Deuteronómio está escrito claramente que Deus não gosta de imagens que podem desviar a atenção, a adoração pura. Está escrito!

Como pintaria a ignorância e a estupidez?
Com o retracto de João Soares (ultimamente demonstrou este dois defeitos… nada contra ele)

No Ribatejo, o touro e o cavalo fazem parte da paisagem habitual. Como colocaria uma tourada a cavalo num trabalho de Pollock?

Pollock? Ele faria uma tourada como uma tarte de morango.

 
Santarém (INATEL), 30 de Abril de 2016
 
Esta entrevista segue as orientações do anterior Acordo Ortográfico.
 

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2016)

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