“ADIAFA na Quinta da Areosa”
08/07/2006Em Alenquer, nos dias 5 e 6 de Julho (2006)
“ADIAFA na Quinta da Areosa”
Foi a turma da VIDA ACTIVA, com uma média de idade de sessenta anos. Mas, como diz a marcha, são jovens de coração que esquecem o peso da idade na coragem e valentia, e que procuram a motivação na alegria; e que sabem que vão ganhar a taça do idoso, bem merecida, porque vivem o melhor da sua vida.
ADIAFA é uma palavra que alguns etimologistas julgam ter origem árabe (diafa ou addyãfa), e é usada nalgumas regiões do país para caracterizar uma manifestação etnográfica constituída por um desfile de trajes, utensílios e costumes do passado, onde se privilegia a música popular portuguesa, como o folclore, música tradicional e coral, tocadores de acordeão, uma sessão de fados, teatro-revista e muitos bailes.
Até há bem pouco tempo, era a festa popular do fim das colheitas, uma época em que trabalhadores e patrões confraternizavam, após uma boa campanha; hoje, a “adiafa” não é mais do que uma promoção turística de uma determinada região, ou uma manifestação para ajudar a manter a cultura e os arcaicos costumes que teimam em persistir à mudança constante dos valores sociais, porque as leis da economia e a escassez de mão-de-obra tudo modificaram.
FOLKLORE é o vocábulo inglês destinado ao estudo do conjunto de formas da cultura tradicional e popular, e consiste na junção das palavras FOLK (povo) e LORE (sabedoria); em português é a palavra FOLCLORE que tem esse valor semântico. Este património imaterial, composto pelas obras colectivas que emanam de uma cultura e que se baseiam na tradição, transmite-se oralmente e modifica-se com o decorrer do tempo.
Homens e mulheres de ontem, porque nascidos há mais de sessenta anos, mas que também o são de hoje, porque teimam em não parar e em participar activamente, sentem que esses valores populares também são seus, porque neles comungaram, e ainda comungam, com intensidade, sem darem conta que estavam a contribuir para a história do nosso povo.
Mas hoje, o que fazer depois de deixar para trás uma vida de intensa actividade? Essa interrogação continua a conter um aspecto assustador para muita gente que se encontra nessa situação, tanto mais que não é possível dissociar a continuação de uma vida activa às reformas actualmente em vigor, salvo algumas e honrosas excepções. Há que encontrar uma “terapêutica ocupacional” para atenuar estas vicissitudes do ciclo de vida do ser humano.
A actividade física é uma saída, e a mais vulgar, mas a ocupação cultural também vem ganhando terreno; e se juntarmos as duas, tanto melhor. Como resultado, a turma da VIDA ACTIVA que o prof. Rui Rato diariamente ministra na “Chemina”, levou à “cena”, no Auditório Damião de Goes, nos dias 5 e 6 de Julho de 2006, a “ADIAFA NA QUINTA DA AREOSA”, uma encenação que António Rodrigues Guapo trouxe do reportório do Grupo Cénico Palmira Bastos, de Aldeia Gavinha, de que é o grande impulsionador. Cerca de cinquenta pessoas em palco proporcionaram mais de uma hora de boa disposição à assistência que encheu por completo o auditório.
A preparação do terreiro, onde a festa iria acontecer, antecedeu a chegada do “patrão”, da “senhora”, das “meninas”, do “padre” e da “criadagem”; seguiu-se a vez do “capataz” e de todos os “trabalhadores do campo”.
Depois do capataz ter pedido autorização a “Dom Rui”, o patrão, para se iniciar a festa, lá começou o bailarico ao som do acordeão de José Hermínio, seguindo-se um vistoso “fandango” por quatro bailarinos, e uma animada desgarrada entre “Maria da Piedade” e “António do Arneiro”.
“Dom Rui” perguntou ao capataz se os trabalhadores não saberiam “cantigas das suas terras”; e, daí até final foi um desfilar de cantares populares, começando pelas “Beiras”, passando pelos “Alentejanos” e terminando com “Cantares da nossa terra”.
O momento mais prolongado foi o dedicado ao “Fado”, onde Aníbal Oliveira, Perpétua Cabaço e José Hermínio mostraram os seus dotes fadistas; aqui uma certeza, a voz da conhecida fadista Amália Rodrigues, de Vila Franca de Xira, e uma surpresa, a agradável voz de Luís Grácio. Momento muito aplaudido e que a todos agradou.
Quatro pares de dançarinos entraram em cena com o “Rancho da Vila”; dançaram três números, porque o fôlego não dava para mais. Depois, foi o agradecer a “bondade” do patrão que disponibilizou as charretes para transportar todo o pessoal até à feira, na vila.
A terminar, foi o cantar da “Marcha da Vida Activa”, acabando o público por acompanhar os artistas, na repetição. O autor da letra, Florindo Abreu, subir ao palco para receber os aplausos da assistência, e os parabéns também, pois era dia de aniversário.
Rodrigues Guapo também recebeu os aplausos da assistência, assim como os representantes dos ranchos de Alenquer e do Carregado, que colaboraram neste espectáculo.
Foi a turma da VIDA ACTIVA de professor Rui Rato, com uma média de idade de sessenta anos. Mas, como diz a letra da marcha, são jovens de coração que esquecem o peso da idade na coragem e valentia, e que procuram a motivação na alegria; e que sabem que vão ganhar a taça do idoso, bem merecida, porque vivem o melhor da sua vida.
Esta ADIAFA terminou e, conforme se pôde perceber, a época das vindimas estava à porta, onde o trabalho persistiria em ser duro, e de sol-a-sol, a começar mal a aurora despontasse, e após o indispensável mata-bicho na tasca mais próxima. Depois seria a canseira dos homens e das mulheres nas entranhas dos vinhedos; seria o chiar dos carros de bois, a anunciar mais uma tina de uvas que passava; seria o tlim-tlim das prensas nos lagares, que se repercutiria em todas as direcções, que tal sino a mobilizar a aldeia; seriam os homens a andar numa azáfama, especialmente os adegueiros, quase sempre descalços, porque trabalhavam dentro dos lagares; seria a habituação aos odores que perfumavam o ar; seria alguma algazarra também, por quem estava no sortilégio do pisar das uvas. Este frenesim continuado seria o prenúncio que mais uma Adiafa se aproximava.
Hoje, diversificado equipamento agrícola substitui homens e mulheres na vindima de uma quantidade enorme de vinhas; nem mesmo as adegas têm alguma coisa a ver com a situação antiga: as modernas exigências enológicas assim o impõem. São as leis do progresso, mas nada substituirá a sabedoria e as tradições do passado; esses valores perdurarão.
MARCHA DA VIDA ACTIVA:
Nós somos só saúde e amizade
Coragem, valentia
Jovens de coração…
Esquecemos o peso da nossa idade
Procuramos n’alegria
Nossa motivação!
Marchamos para a frente com a virtude
Da nossa Vida Activa
Que mantemos de pé…
Mostramos que a vida é juventude
Que a vida nos motiva
… e para a frente é que é!
Marchamos com orgulho e galhardia
Cantamos com fervor e ousadia
Palavras d’amizade afectiva
Do nosso professor da Vida Activa!
Vivemos dia-a-dia e a lutar
Vivemos o melhor da nossa vida
Sabemos que no fim vamos ganhar
A taça do idoso, bem merecida!…
Nós somos só saúde e amizade
Coragem, valentia
Jovens de coração…
Esquecemos o peso da nossa idade
Procuramos n’alegria
Nossa motivação!
Marchamos para a frente com a virtude
Da nossa Vida Activa
Que mantemos de pé…
Mostramos que a vida é juventude
Que a vida nos motiva
… e para a frente é que é!
FICHA TÉCNICA:
TI ANTÓNIO – Alfredo Carlos;
MARIA DA PIEDADE – Odete Almeida;
HOMEM – Lourenço Leitão;
MULHER – Ana Padrão;
ANTÓNIO CAPATAZ – Leopoldo Rodrigues;
D. LEONARDA – Celeste Correia;
D. RUI – Adolfo Costa;
PADRE – Francisco Guimarães;
CRIADAS – Felismina Gomes e Isabel Correia;
MENINAS – Margarida Correia e Catarina Torres;
RAPARIGA – Bertolina Ramalho;
GERÓNIMO – Manuel Roseta.
DESGARRADA:
MARIA DA PIEDADE – Amélia Cunha;
ANTÓNIO DO ARNEIRO – Mário Pires.
FANDANGUEIROS:
Conceição Carvalho;
Esmeralda Santos;
José Pinheiro;
Conceição Pinheiro.
CANTARES DAS BEIRAS:
Amélia Cunha;
Virgínia Rafael;
Leonor Abrantes.
CANTARES ALENTEJANOS:
António Grilo;
Martinho Roma;
Joaquim Menino;
Mário Pires;
Manuel Roseta;
Alfredo Carlos.
CANTARES DA NOSSA TERRA:
Augusta Leonardo;
Teresa Catarino;
Bertolina Ramalho;
Vitória Roseta.
FADO:
Aníbal Oliveira;
Amália Rodrigues;
Perpétua Cabaço;
José Hermínio;
Luís Grácio (guitarra portuguesa);
Mário Pires (viola);
Eduardo Raposo (viola).
RANCHO DA VILA:
Elisabete Amaral/João Luís Correia;
Elisabete Abreu/Júlio Cabaço;
Elisa Rato/Fernando Rato;
Hélia Assis/Mário Santos.
TEXTO E ENCENAÇÃO:
António Rodrigues Guapo.
LETRA DA MARCHA DA VIDA ACTIVA:
Florindo Abreu.
CONTRA REGRA:
José Almeida.
PREPARAÇÃO DE ACTORES:
Rui Rato.
ACORDEONISTA:
José Hermínio.
ORGANIZAÇÃO:
Pelouro do Desporto/CMA
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2006)
Director do Jornal D’Alenquer
in Jornal D’Alenquer, 8 de Julho de 2006, online
Olá, muito obrigado por visitar este espaço.
Espero que a sua leitura tenha sido do seu agrado.
Se for o caso de nos deixar agora, desejamos que volte muito em breve.
Até lá… e não demore muito. espreite