Damião de Goes em Lovaina
01/02/2000Damião de Goes em Lovaina
“Sem ser um Virgílio ou um Cícero, era um ardente apóstolo da literatura e do saber, uma força viva cuja influência benéfica nos estudantes e nos outros escolares mal se pode avaliar”
(Henry de Vocht, estudioso do humanismo flamengo)
Em Julho de 1542 quando ia a caminho da Holanda, numa viagem anual habitual, ao passar por Antuérpia, Damião de Goes recebe a notícia de que um exército francês cercava Lovaina. Rapidamente regressou à Alma Mater para combater, e acabado de chegar foi logo posto à cabeça dum grupo de estudantes que se tinham alistado para defender a cidade. De seguida foi enviado para tentar negociar um armistício.
Entretanto Lovaina não respeitou as tréguas e recomeçaram as hostilidades. Damião de Goes pensou que tinham recebido auxílio da Holanda e aconselhou o comandante francês a abandonar o cerco. Este aceitou o conselho mas levou-o prisioneiro.
A Universidade de Lovaina mostrou-se pouco solidária com o seu amigo Goes, tendo mesmo recusado uma troca de prisioneiros, forjada por sua esposa e por um amigo seu de nome Gabriel Garchie, e tendo também resgatado outro prisioneiro deixando o português sozinho nas prisões francesas, sendo então o rei de Portugal, D. João III, a negociar a sua libertação.
Damião de Goes estava profundamente melindrado com a injustiça que lhe tinha sido feita tanto pela cidade como pela universidade, por isso solicitou uma audiência aos representantes da universidade aos quais distribuiu cópias do discurso que tencionava fazer, onde manifestava que entendia o ataque francês como sendo causado principalmente por motivos religiosos e não pelo desejo de conquista de território. (Lovaina na altura era hostil ao luteranismo) e que sentia que o seu feito mais notável não tinha sido o convencer os estudantes a tomar parte na batalha em defesa de Lovaina, mas sim em persuadir os Franceses a desistirem do cerco.
Para desgosto de Damião de Goes, a Universidade de Lovaina declinou qualquer obrigação da sua parte, quer de agradecer a Goes como de lhe oferecer uma compensação pelos seus serviços e sofrimentos, mas o que mais desgostava Damião de Goes foi o sentimento discriminatório por ele ser estrangeiro, quando ele, Damião de Goes, tinha adoptado a Flandres como segunda pátria.
Revoltado apela a Carlos V, partindo do princípio que um imperador que governava tantos povos estaria acima de qualquer nacionalismo tacanho. Damião de Goes fez sentir o grande afecto que tinha por Lovaina e disse não se sentir um estranho mas um deles, não de além mar mas um da família. Disse ainda que não há nada de mais vergonhoso do que uma cidade ingrata.
O imperador Carlos V escreveu uma carta ao comandante francês condenando o tratamento que a França infligira a Damião de Goes e concedeu a este um brasão, demonstrando assim que apreciava os seus serviços.
Entretanto Lovaina nunca lhe manifestou nenhuma forma de reconhecimento, no entanto Henry de Vocht, distinto estudioso do humanismo flamengo disse em certa altura que “…a Universidade de Lovaina perdeu um mestre que tinha aspirado a passar a vida como seu membro e que já a tinha beneficiado com o vasto conhecimento adquirido no meio de eruditos e de príncipes. Sem ser um Virgílio ou um Cícero, era um ardente apóstolo da literatura e do saber, uma força viva cuja influência benéfica nos estudantes e nos outros escolares mal se pode avaliar”.
QUATRO TRABALHOS, UMA SÓ REPORTAGEM
À glória de um autor tão internacional como Damião de Goes
- Damião de Goes em Lovaina (Você está aqui)
Damião de Goes e Erasmo
O Representante de Damião de Goes
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2000)
diretor do Jornal D’Alenquer
in Jornal D’Alenquer, 1 de Fevereiro de 2000, p. 16 a 18
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