Apresentado “Invasores Franceses em Terras de Alenquer”, de António Rodrigues Guapo
02/06/2013“Invasores Franceses em Terras de Alenquer”
Foi hoje apresentado o livro de António Rodrigues Guapo sobre a passagem das tropas napoleónicas pelo concelho de Alenquer, na época da Guerra Peninsular. O auditório do Museu João Mário, em Alenquer, encheu, como habitualmente, neste domingo, 2 de Junho de 2013.
A receber-nos à porta do museu estavam dois soldados franceses do exército de Massena, com aspecto pouco acolhedor, como imagem conveniente a transmitir de tais personagens que espalharam a destruição e o terror pela região alenquerense.
Já depois de comodamente sentados, fomos sobressaltados pelo som inconfundível das passadas fortes e ritmadas dos dois militares invasores. Percorreram o corredor central e aproximaram-se da parte da sala onde havia espaço suficiente para uma simples disposição protocolar: enquanto um soldado se postou junto do anfitrião do museu, o outro, numa posição mais centralizada, puxou dum manuscrito e começou a lê-lo.
“Ao senhor desta casa e a todos os outros habitantes. Deveis reconhecer que há franceses (…) na vossa casa…”. Era a recriação da “Proclamation” de Olhalvo, feita pelas tropas de Massena na ocupação da aldeia, na segunda “visita” dos franceses àquela povoação do norte do concelho.
E o soldado napoleónico continuou a sua leitura, com voz áspera, mas perceptível: “…a perda do vosso país foram os Senhores ingleses, e o vosso erro foi terem acreditado em tudo o que eles disseram, e ainda terem abandonado as vossas casas. Se tivésseis ficado, os franceses ter-vos-iam reconhecido como amigos. Desta maneira sois duplamente culpados de tudo isto… Os franceses só são bárbaros para os seus inimigos…”.
E as barbaridades sucederam-se; não só em Olhalvo mas igualmente em toda a região do concelho de Alenquer: no período que Massena instalou o seu quartel-general em Alenquer, entre 10 de Outubro e 14 de Novembro de 1810, os saques e as sevícias foram a prática corrente em toda esta zona.
Assassinos”, foi o grito constante ouvido duma população desprotegida, que foi submetida à fome, à violação e à morte; que viu as suas casas, os seus celeiros e as suas searas a arder. “Morte aos Franceses”, bradava a população perturbada ao assistir à profanação dos seus templos sagrados, e ao ver serem queimados os manuscritos das valiosas bibliotecas conventuais. “Morte aos Franceses”, continuava a população sobressaltada a clamar ao ver as igrejas e conventos a serem saqueados e pasto das chamas, e a serem utilizados como cavalariças.
“Os malvados Franceses foram embora”, foi o grito de libertação duma população extenuada que teve que abandonar as suas casas e procurar a protecção das muralhas de Lisboa, e que teve de fazer da sua uma “terra queimada” para expulsar o invasor infame.
Foi esta a metáfora utilizada pelo grupo de teatro “Os 4 e o Burro” (soldados napoleónicos) e pelo grupo de teatro da “Vida Activa” (população indignada) para dramatizarem a situação da ocupação francesa de há 200 anos.
Filipe Rogeiro, responsável pelo Prefácio, passou, de seguida, à apresentação de António Rodrigues Guapo, autor de “Invasores Franceses em Terras de Alenquer”. E Nuno Alexandre, da Arruda Editora, teceu algumas considerações do historial desta obra, dos avanços e recuos que ela teve até chegar finalmente à sua publicação.
Finalmente, chegou o momento de Rodrigues Guapo tecer algumas considerações sobre o livro. Sobretudo das suas motivações para o escrever, principalmente porque o incomodava ver que quando se falava das invasões francesas nunca se referiam a Alenquer; só se falava de Torres Vedras e de Sobral de Monte Agraço. E quando se falava das Linhas de Torres, esqueciam-se sempre de mencionar que nestas trabalharam arduamente muitos operários do concelho de Alenquer.
GUAPO António Rodrigues, “Invasores Franceses em Terras de Alenquer” (2013) Arruda Editora
“Este livro foi feito à laia de folhetim”, exclamou o autor, pois ele também é fruto de um acumular de pequenas histórias ouvidas durante muitos anos à população das diversas aldeias, e que chegaram até ela através da “tradição oral”.
São várias as colaborações que o livro incorpora. A capa e o prefácio estão ilustrados com aguarelas de Mestre João Mário e de Marta Teives, que também são responsáveis pelas iniciais que surgem no rodapé de todas as páginas. A fotografia tem a coordenação de Inês Hartley, sendo Flávio Ruivo o responsável pelas fotografias da recriação histórica de Almeida. O grafismo é da competência de Maria Inês Nuno. A impressão gráfica e acabamentos é da Soartes. Finalmente, a edição é da Arruda Editora.
A primeira vez que António Rodrigues Guapo viu o livro foi quando este lho foi apresentado somente há três dias, dia do seu aniversário, portanto uma surpresa, e sem tempo para o saborear como ele mereceria. “O texto, ainda não o vi mas os bonecos são interessantes…”. O texto é importante, mas a imagem permite-nos e ajuda-nos a viajar”, concluiu António Rodrigues Guapo.
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2013)
Programador Cultural
Alenquer, 2 de Junho de 2013
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