“A Globalização da Complexidade” (i): A Modernidade é um projeto da Revolução Industrial

“A Globalização da Complexidade” (i): A Modernidade é um projeto da Revolução Industrial

10/01/2019 0 Por hernani

Recensão critica da obra de Mike Featherstone

“A Globalização da Complexidade” (i)

A Modernidade é um projeto da Revolução Industrial
– Pós-modernismo e cultura do consumo –


“Não posso acreditar que somos inúteis,
de outra forma Deus não nos teria criado.
Existe realmente um Deus a velar por todos nós.
Somos todos filhos de um Deus único.
O sol, a escuridão e os ventos escutam o que temos para dizer”
(Geronimo, autobiografia)


Mike Featherstone

Este trabalho propõe-se essencialmente constituir-se numa pequena recensão do artigo de Mike Featherstone (1886-1958), “A Globalização da Complexidade – Pós-modernismo e cultura do consumo”, uma versão revista do texto que o autor preparou para o 19.º Encontro da ANPOCS, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em Caxambu, Minas Gerais, Brasil, no ano de 1995, cujo material essencial foi extraído do seu livro “Undoing Culture: Globalization. Postmodernism and Consumption”, e tem por finalidade satisfazer uma necessidade académica da cadeira “Cultura, Redes e Globalização”, do 2.º ano da licenciatura de Ciência da Comunicação e da Cultura, da Universidade Lusófona, sob a docência da doutora Berta Campos.

É um texto riquíssimo em reflexões e de uma exuberância assinalável em fontes bibliográficas; por isso difícil, apesar de não deixar de ser atraente. Como é óbvio, não iremos seguir todo este percurso indicado por Featherstone mas, com certeza, aceitamos o convite e iremos seguir algumas destas pistas, tendo-as como pontos de partida para o enriquecimento da análise do assunto, indicando o que outros autores pensam sobre isso e acrescentando alguma reflexão própria.

Como auxiliar para esta recensão crítica, servimo-nos basicamente do tombo pessoal; para além de livros, igualmente de alguns textos indicados pelas diversas cadeiras que temos frequentado na Universidade Lusófona, assim como de apontamentos recolhidos nas diferentes aulas. A Internet igualmente serviu para alguma pesquisa complementar.

E ao iniciar esta nossa labuta surge o primeiro problema, idêntico ao do “jovem pesquisador” de Featherstone: precisamente o da “selectividade” face à complexidade da informação disponível. O que deve ser eleito, e o que deve ser ignorado, mesmo que neste caso essa informação contenha alguma relevância histórica.

Até porque estamos numa época de mudanças. Ou será numa mudança de época? “Como descrever as profundas mutações que acompanham a rápida entrada na sociedade da inteligência artificial e as novas tecnologias da informação e da comunicação? Trata-se de uma fortalecida sociedade industrial ou estamos a entrar numa nova era? “Aldeia global”, “globalização”, “sociedade da informação” e “sociedade do conhecimento” são alguns dos marcos que nos ajudam a entender o que estas mudanças poderão significar.” (LEMOS FIGUEIREDO, 2011 p. 1).

Se para Featherstone a quantidade de informação disponibilizada pela Internet cria um problema de navegação, tanto pela maneira como essa informação se apresenta – ora aumentando ora diminuindo de complexidade – como pela sua selecção, a nós – não tanto em relação ao ciberespaço mas mais em relação ao tombo pessoal, onde temos disponível uma quantidade significativa de informação, desde biografias a ensaios históricos e filosóficos – igualmente cria uma dificuldade de selecção idêntica que, como na Internet, potencia uma complexidade. Aqui, na escolha do material que nos ajude a analisar a ascensão do movimento pós-moderno em detrimento do moderno, nas mais variadas vertentes do conhecimento, sabendo também que esse movimento não foi, aliás não está a sê-lo, coincidente em todas as latitudes. Isto leva-nos à conclusão que “o problema da complexidade não é novo” (FEATHERSTONE, 1996).

Para nós, não é novo mas é aliciante. Para começar temos que labutar com a complexidade do que é “modernidade” e do que é “pós-modernidade”. Mais; porque são noções que não recebem a homogeneidade interpretativa entre os diversos pensadores, o que nos cria alguns desafios.

Para se falar em Modernidade, um projecto de sociedade que a Revolução Industrial consolidou e que está indissociavelmente ligada ao capitalismo, obrigatoriamente teremos que falar do pensamento de Max Weber sobre ela. “O diagnóstico weberiano da modernidade” que Rafael Gomes Filipe engloba no seu trabalho “A Lição de Weber ou Max Weber Educador” serve perfeitamente as nossas intensões. “Podemos dizer que o diagnóstico da modernidade a que Weber procede apresenta duas componentes essenciais. A primeira consiste na análise e na descrição do processo de racionalização especificamente ocidental; a segunda, estreitamente associada à primeira, é constituída por uma tentativa de caracterização da situação do homem e do conhecimento no mundo moderno, a partir de uma interrogação fundamental sobre o «destino do homem» no âmbito das sucessivas formações sociais e nas esferas da sua actividade” (FILIPE, 2000 p. 31).

Já seria o suficiente, mas Gomes Filipe vai um pouco mais além e aproxima-nos da caracterização weberiana do processo de racionalização. “A primeira componente, tal como Wolfgang Schluchter demonstrou, articula-se em três dimensões: A de uma racionalização científico-técnica, assente no desenvolvimento e na difusão da capacidade de compreender e dominar através do cálculo tanto os fenómenos do mundo como os processos da vida; a de urna racionalização metafísica-ética, operada pela reelaboração sistemática de relações de sentido e de conhecimento que determinam a posição do homem face ao mundo e a ser, finalmente, a terceira dimensão tem a ver com uma racionalização prática, caracterizada, precisamente através da identificação de uma «afinidade electiva» entre a ética das seitas protestantes e o «espírito» ou «habitus» do capitalismo, pela promoção de uma conduta de vida metódica que visa levar em conta ou mesmo prever relações de sentido e contextos de interesses” (FILIPE, 2000 p. 32).

Como se iniciou o processo ocidental de racionalização é o próximo passo do pensamento de Max Weber sobre a descrição da modernidade. “Estas tendências, que entre si se completam, do pensar e do agir dos homens, motivaram e constituíram, propriamente, o processo ocidental de racionalização que, segundo Weber, se terá iniciado com o profetismo do judaísmo antigo, com a «descoberta» helénica do «conceito» e com o pensamento científico helenístico, para incorporar depois a nova visão do mundo e as novas perspectivas técnicas surgidas com o Renascimento e com a Reforma, o que determinaria uma incipiente racionalização de todas as esferas da vida” (FILIPE, 2000 p. 32).

Racionalização de todas as esferas da vida. Se à época era «incipiente», hoje não há análise da modernidade que não se considere a racionalização weberiana «de todas as esferas da vida». “Finalmente, na viragem do século XIX para o século XX, este processo de racionalização atingiria a sua plenitude sob a forma do conceito de modernidade, passando de então para cá a caracterizar a época e a impregnar de uma maneira total o pensar e o agir dos homens. Cientifização, tecnicização e burocratização, enquanto rasgos maiores da racionalização formal, tornaram-se factores predominantes da vida social, ao ponto de a racionalização da imagem do mundo parecer ter atingido um grau inultrapassável de perfeição.” (FILIPE, 2000 p. 32).

Existem outras vozes, igualmente importantes, sobre o processo moderno. Para o próprio Weber, Marx e Nietzsche são pensadores decisivos do seu tempo, aqueles que, fazendo fé no que alguns biógrafos escreveram, tiveram maior impacto sobre a sua obra. Segundo Immanuel Kant, “as “Luzes” é a saída do homem do estado de tutela de que ele próprio é responsável”. É um convite a ousar saber, a ousar utilizar o seu próprio entendimento, a libertar-se dos tutores e dos estados de tutela, e a emancipar-se.

“Sei que se fala muitas vezes da modernidade como de uma época ou em todo o caso como de um conjunto de traços característicos de uma época; situam-na num calendário onde ela seria procedida por uma pré-modernidade mais ou menos ingénua ou arcaica e seguida por uma enigmática e inquietante pós-modernidade. (…) Referindo-me ao texto de Kant, pergunto-me se não se pode encarar a modernidade mais como uma atitude do que como um período da história. (…) Mais do que querer distinguir o «período moderno» das épocas «pré» ou «pós-moderna», creio que é melhor procurar compreender como a atitude de «modernidade», depois que se formou, se encontra em luta com atitudes de «contramodernidade». (FOUCAULT, 1998).

Modernidade, onde as teorias de Francis Bacon floresceram. Sustentavam elas que tanto a Natureza como a Bíblia eram produto de Deus e, portanto, o estudo da Natureza (obra de Deus) era tão importante quanto o estudo da Bíblia (palavra de Deus) para compreender Deus. E, no amanhecer da modernidade, em 1605, escreveu “que nenhum homem, devido a um fraco conceito de sobriedade ou moderação mal utilizada, pense ou defenda que um homem pode investigar profundamente ou ser muito erudito no livro da palavra de Deus ou no livro dos trabalhos de Deus – divindade ou filosofia; mas que seja permitido aos homens esforçarem-se interminavelmente por um progresso ou competência em ambos”. (WHITE, et al., 2004 p. 53).

 “Os enciclopedistas (D’Alembert e Diderot) eram gente nascida e crescida com o pulsar dos tempos e representavam já a interiorização das grandes linhas de força da Modernidade. Representavam, no plano das ideias a descoberta da sociedade civil, a igualdade natural, a autonomia e a universalidade da razão, a liberdade, em face dos vínculos naturais ou tradicionais e dos mecanismos que alimentavam a desigualdade entre os súbditos e a dependência universal perante o monarca absoluto” (SANTOS, 1999 p. 64). 

Havia a “modernidade” de Compte, para muitos considerado o fundador da sociologia como disciplina científica. Nesta mesma linha de pensamento positivista, Durkheim sustenta que os fenómenos da natureza e a sociedade poderiam ser vistos da mesma maneira. Numa linha evolucionista queria firmar uma ciência experimental baseada na observação; sobretudo para admitir a Sociologia como uma ciência autónoma, distinta da Filosofia, da Psicologia, da Biologia e da História.

Mas, esta Modernidade também acolhe pensamentos que querem separar as «Ciências do Homem» das «Ciências da Natureza». E os seus adeptos mais acentuados, poderemos chamar-lhes de «antipositivistas», são Hegel e Dilthey, entre muitos outros. Este último, herdeiro do pensamento de Kant, contrapõe a razão da História à doutrina positivista da razão científica. Que o fenómeno social deveria ser relegado para a primeira linha. 

 

 

Lisboa (Universidade Lusófona), 3 de Maio de 2011

 

 

 

I – A Modernidade é um projeto da Revolução Industrial  –  VOCÊ ESTÁ AQUI

II- O Pós-modernismo é uma nova etapa do Capitalismo

III – A Idade Moderna chegou ao fim e está aí a Idade Global

IV – O Clube Bilderberg é um Governo Mundial Único  –  (a 20/2/2019)

V – Os Descobrimentos Portugueses foram a primeira Globalização Moderna  –  (a 25/2/2019)

VI – O posicionamento da Cultura na Hipermodernidade  –  (a 1/3/2019)

VII – A Cultura do consumismo na pós-modernidade  –  (a 10/3/2019)

VIII – A passagem da «escrita» para a «imagem» na Pós-modernidade  –  (a 15/3/2019)

IX – A Hipermodernidade, o pós-humano e a chegada do Cyborg   –  (a 20/3/2019)

X- A Modernidade é a industrialização da guerra  –  (a 25/3/2019)

XI -Bibliografia

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