Encontro com… DANIEL SAMPAIO

01/01/2000 0 Por hernani

(Apontamentos recolhidos no Auditório da Biblioteca Municipal de Alenquer, em 11 de Novembro de 1999, pelas 21:30, com a sala completamente cheia e a presença notada de muita juventude).

Encontro com… DANIEL SAMPAIO

“Todas as pessoas que têm preocupações com os outros são extremamente úteis à sociedade”

ALENQUER: Encontro com … DANIEL SAMPAIO

“Os alunos têm enormes expectativas em relação aos professores, pelo que é urgente fomentar o binário relacional professor/aluno.”
“Há uma coisa que os professores estão pouco treinados a fazer: ouvir as críticas dos alunos aos seus ensinamentos. Isto é válido para crianças dos 3 anos aos alunos universitários.”
“É preciso que não se esqueça o papel mais definido de cada um dos interlocutores: o papel do pai e da mãe não é na escola mas sim em casa; o papel do professor é na escola; o papel do psicólogo é ajudar os professores a encaminhar as situações difíceis.”
“Não deveremos ter muita pressa em fornecer informação a crianças de 3/4 anos. É fundamental ajudar as crianças a observarem a realidade. Se inundarmos as crianças com informação elas não observam a realidade.”
“Os papéis das famílias estão menos definidos; andamos todos um pouco à procura do que é hoje ser homem, ser mulher, ser pai, ser mãe e ser filho. As pessoas angustiam-se nas suas funções.”
“Os pais dizem; já não sei ser pai, pois os meus filhos não obedecem. Os filhos dizem: queria conversar com o meu pai mas ele não está disponível. As pessoas estão permanentemente a dizer que não estão bem no seu papel O que eu tenho lutado e procurado é que as pessoas estejam minimamente bem na sua pele.”
“O casamento vai continuar a ser muito exigente para aquele itinerário partilhado e vai continuar a haver desilusão, vão continuar a haver dúvidas e vão continuar a haver divórcios. O amor conjugal, porque é muito exigente, torna-se instável.”
“Os adultos tem um sentimento de culpa, porque provavelmente sabem que o modelo educativo dos seus pais já não funciona para os seus filhos.”
“Cada família tem que encontrar dentro de si uma estratégia para resolver os seus problemas. Todas as famílias têm problemas. Aquelas que não os têm são famílias mortas.”
“Ninguém contacta ninguém, estão de costas voltadas uns para os outros. Não existem problemas. Vão vivendo mas não têm uma vida palpitante. É uma família morta.”
“Os mais velhos têm que ajudar os mais novos a pensar e a reflectir.”
“A tristeza e a alegria são sentimentos perfeitamente naturais, enquanto a depressão é uma doença.”
“Temos que distinguir sofrimento de doença.”
“Ao contrário do que acontece noutros países, em Portugal, o doente mental é esmagado, é marginalizado, é estigmatizado e é excluído. A sociedade esconde o problema da existência de doentes mentais.”
“Todas as pessoas que têm preocupações com os outros, são extremamente úteis à sociedade.”
“Todas as organizações estruturadas de juventude são importantes, como as organizações que têm uma filosofia positiva como a de Baden-Powell e que tenham uma tradição de trabalho com jovens. No entanto entendo que os Escoteiros deveriam aproximar-se mais de outras estruturas para procurar apoio para as suas dúvidas.”
“O problema da droga é um problema de prazer. Os adolescentes que se drogam são aqueles que andam à procura dum prazer que não encontram noutro lugar. A problemática da droga é saber-se como é que as pessoas podem ter satisfação sem terem que recorrer à droga.”
“O “extasy” é uma substância muito em voga que permite aos jovens dançarem toda a noite. Tem uma boa imagem na juventude, pois um jovem vai a uma Discoteca toma uma pastilha, pensa que não faz muito mal e vai dançar a noite inteira.”
“Quando se começa a dizer que o “extasy” ataca o coração, que desidrata, etc., os jovens não acreditam, pois vem ao lado dezenas de outros jovens a “pastilhar-se” e a terem satisfação.”
“É preciso dizer aos jovens como é que se pode ter mais satisfação sem ter que recorrer a coisas que dão prazer mas que causam problemas mais tarde. É preciso dizer aos jovens que “«se não fumarem, se não consumirem álcool em excesso, se tiverem uma boa “alimentação e se estiverem bem consigo próprios, na próxima sexta-feira podem ir dançar toda a noite sem necessidade de tomar uma pastilha»”.
“Os amigos dos meus filhos deram-me muitas coisas mas de certeza que eu dei-lhes algumas também.”
“Os padres têm um papel fundamental, pois são pessoas que se preocupam com os outros. Tanto os padres como os psicólogos fazem as pessoas reflectirem. Os padres, os psicólogos, os psiquiatras, os bombeiros, os escoteiros, as assistentes sociais, todas as pessoas que tenham, de alguma forma, actividade ou profissões em que o “outro” é importante, contribuem para a minha paz.”
“As bibliotecas devem constituir-se em espaços de reflexão para os jovens.”
“Tenho muita fé no trabalho que aqui estou a fazer esta noite, mas também tenho uma certa desilusão porque depois as pessoas que aqui estão não conseguem reunir-se de forma significativa para continuar esta discussão.”
A anteceder este encontro, Daniel Sampaio concedeu uma Entrevista ao Jornal D’Alenquer.