Quem ataca Paulo Portas?
01/10/2002Quem ataca Paulo Portas?
Tem de haver solidariedade para com o Ministro da Defesa Nacional: não está muito longe no tempo quando um seu antecessor, Adelino Amaro da Costa, quis “meter o nariz” onde não era conveniente e o resultado foi o seu assassínio, em Camarate, arrastando consigo o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro.
O regresso dos partidos, após as férias, trouxe para a actualidade política, em vez dos esperados ataques ao Governo, o ataque em força a Paulo Portas. Mas quem ataca Paulo Portas, a esquerda, a direita ou os saudosistas do “bloco central”?
Que esquerda? O PS dividido e desacreditado por uma gestão ruinosa que deixou o país de tanga, vai sobrevivendo à custa dos diversos bastiões ou “células à moda antiga” (autarquias, serviços do Estado, associações e colectividades, Empresas Públicas, etc.), que soube conquistar ao longo dos anos; o PC nunca esteve tão fragilizado devido a uma guerra interna sem solução à vista; o BE continua decidido a ser um pequeno grupo periférico e contestatário. Da “sonhada” unidade de esquerda nem vale a pena falar, quando toda ela mutuamente se despreza e odeia.
João Soares, ex-presidente socialista da Câmara de Lisboa, diz que Paulo Portas está a ser “vítima da direita”. Com certeza estará a referir-se a Ferro Rodrigues, José Sócrates, António Costa e Manuel Maria Carrilho, que pedem a demissão do ministro da Defesa, todos eles ex-ministros do ex-Governo socialista que fugiu e deixou Portugal desacreditado internacionalmente e na penúria social em que se encontra ainda. É que ao fugir das suas responsabilidades governativas, o PS deixou Portugal como habitualmente o deixa quando cessam os seus governos: um país decadente, com as pessoas desmotivadas, que já não acreditam em nada, onde se gratifica e enaltece a incompetência e o imobilismo, onde prevalece a lei do “mais esperto” e do “favor”, onde os casos de corrupção são motivo de noticiários diários, onde se intimida para calar quem incomoda, onde a evasão fiscal campeia, onde o tráfico de droga nunca esteve tão vivo, onde os assaltos a residências e a estabelecimentos comerciais estão em crescendo, onde não há segurança das pessoas e dos seus bens, onde a confiança nas forças de segurança e na Justiça estão por baixo, e onde os políticos estão bastante desacreditados. Ou seja, cada vez que sai do Governo, o PS deixa Portugal um “país terceiro-mundista”.
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No PSD ninguém esqueceu Paulo Portas do tempo do Independente (que o diga Cavaco Silva e Miguel Cadilhe) e onde surgem algumas vozes críticas, como Pacheco Pereira, Macário Correia, Duarte Lima, e mais alguns que, verdade seja dita, nunca apoiaram esta coligação. Aproveitam a “boleia e pedem a demissão de Paulo Portas, o que levou Alberto João Jardim a chamar-lhes os “saudosistas do bloco central”.
O Governo decidiu acabar com as regalias, que não constam na Lei, com que o PS beneficiava determinados sectores da Administração Pública: assim desferiu um rude ataque naqueles “fora da lei” que têm andado, há muito, a “comer” à conta do Estado.
É o caso, por exemplo, da concessão de empréstimos sem juros, da realização de seguros, da utilização de cartões de crédito para consumos pessoais, de senhas de gasolina, etc.; é o caso, por exemplo, dos telefones, fixos e móveis, onde foram estabelecidos limites máximos e onde só o Ministro da Tutela autorizará a distribuição de telemóveis; é o caso, por exemplo, do negócio dos carros, e se ele era interessante: um carro que ao “Serviço” custasse cerca de 53000 euros (10.625 contos), ao fim de três anos, o funcionário poderia comprá-lo por cerca de 7000 euros (1400 contos), e até poderia beneficiar da tal linha de crédito sem juros. Como gostaria de andar na moda e aquele modelo de carro já era “obsoleto”, até poderia vendê-lo a particulares e dar início a novo ciclo. Tudo isto acabou e, com certeza, esta medida revolucionária veio fazer que muita gente venha a ter dificuldade em manter o seu “habitual” nível de vida.
É esta nova realidade que a oposição enfrenta e que não tem sabido lidar com ela. Perdida a batalha da RTP, da PJ, do agendamento do Aeroporto da OTA, dos Institutos Públicos que serviam só par dar emprego e estatuto a alguns “privilegiados”, da Saúde, com a reforma gradual, mas eficaz, de todo o sistema, e onde sobressai a responsabilização das administrações hospitalares e da introdução dos “genéricos”, o caso Paulo Portas, para a oposição, tomou as proporções de um milagre, pois pensam, se ele cair, a coligação cai também, e a esquerda, pensando assim, não quer “largar o osso”.
Há resistência às reformas do Governo? Pois claro, principalmente por parte de alguns interesses, há muito instalados, quer sejam eles corporativos ou económicos, mas Durão Barroso e Paulo Portas têm agora a oportunidade soberana de mostrarem se têm ou não visão de verdadeiros homens de Estado para efectuarem as reformas que são necessárias para Portugal.
Não tenho nenhuma simpatia pessoal por Paulo Portas, antes pelo contrário, mas sou sempre solidário com aqueles que são vítimas de perseguições e de “sistemas destrutivos” de pessoas e, sobretudo, entendo que tem de haver solidariedade para com o Ministro da Defesa Nacional: não está muito longe no tempo quando um seu antecessor, Adelino Amaro da Costa, quis “meter o nariz” onde não era conveniente e o resultado foi o seu assassínio, em Camarate, arrastando consigo o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro.
in Jornal D’Alenquer, 1 de Outubro de 2002, p. 3
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2002)
director do Jornal D’Alenquer
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