XIX Feira de Ascensão: Um relance histórico

XIX Feira de Ascensão: Um relance histórico

01/06/2000 0 Por hernani

Um relance histórico

XIX FEIRA DA ASCENSÃO

Ascensao_historia

Trezentos e poucos quilómetros quadrados de superfície. Quase um quadrilátero, desenhado numa paisagem de colinas e outeiros, de vales e portelas, entre as encostas monolíticas da Serra de Montejunto a norte e a estreita faixa de planície arenosa, da margem direita do Rio Tejo a sul. Sobre este dilatado espaço, estende-se um variado manto vegetal de floresta, de vinhedos, de hortas, de pomares e de terras de pão, matizado aqui e além, pelas manchas brancas do casario e de aldeias.

Três cursos de água correndo para o Tejo, retalham e irrigam estes terrenos alenquerenses trazendo-lhes a fertilidade e a riqueza, e abrindo caminhos para o interior a todos aqueles que desde há milénios, têm chegado aqui, em demanda dos promissores confins do Oeste atlântico…

Esse longo e antigo cortejo de invasores e de ocupantes, aqui deixou os sinais fortes e indeléveis da sua passagem, da sua permanência e da sua cultura.

Grutas dispersas pela Serra, guardam ainda as imagens nublosas dos caçadores neolíticos e os testemunhos visíveis das suas armas e utensílios. As pedras envelhecidas de Castros, a coroarem as cristas estratégicas de algumas colinas e os restos de um Campo de Urnas, perdido no silêncio adormecido das vales interiores, assinalam a presença Celta nestas paragens.

Da ocupação das legiões Romanas ficaram os troços estropiados das antigas vias imperiais, um sem número de lápides epigráficas, de aras votivas, de cipos e de marcos miliários guardados nos museus, ou a referência quase lendária de uma Gerábriga ainda não localizada.

Com os invasores muçulmanos, que por largo tempo ocuparam estas terras, ganharam as marcas da sua cultura em usos e costumes já quase esquecidos, ou nas práticas agrícolas hoje em dia bem vivas. Meia dúzia de topónimos assinalam e reforçam essa passagem dos povos do crescente.

Vieram depois os períodos agitados da Reconquista cristã e com eles a fundação de três concelhos medievais: Alenquer, Vila Verde dos Francos e Aldeia Galega (1212, 1217 e 1305). Fixaram-se colonos, a população aumentou e as terras ermas ganharam vida e actividade; surgiram as primeiras povoações; os municípios tiveram forais reformados e cresceram em importância.

Reis, príncipes e princesas, ligaram o seu nome a Alenquer, que pertencia já à casa das Rainhas. Servos da gleba e mesteirais, homens de armas e práticos do mar, mercadores e aventureiros, clérigos e senhores do Pendão e Caldeira, aqui nasceram ou passaram, deixando nome nas memórias do Povo e nas páginas da História.

Fundaram-se os primeiros eremitérios e conventos e um pouco por toda se edificaram humildes capelas e modestas igrejas da paróquia que hoje valorizam os campos e povoados da região.

Com a grande aventura das descobertas animaram-se de novo as terras de Alenquer. Guerreiros, navegadores e missionários daqui partem, para os quatro cantos da terra, vivendo os novos e renovadores tempos da História. A riqueza chega a estes lugares. Desses tempos prósperos, ficaram os testemunhos de grandiosas construções, de importantes quintas e de belos solares… Este foi o tempo dos Santuários de Romaria, das grandes e monumentais igrejas e dos conventos protegidos pela Casa Real.

Já quase nos nossos dias, há pouco mais de um século, os três municípios medievais, são extintos e deles nasce o actual Concelho de Alenquer (1832). A Vila, cabeça do novo município, cresce e desenvolve-se rapidamente com o labor de novas fábricas, construídas à beira de água, durante o surto renovador da Revolução Industrial.

Com o ritmo acelerado do progresso, o comboio e o telégrafo chegaram às terras de Alenquer. É o futuro que se desenha, bem materializado pela construção de um novo e elegante edifício dos Paços do Concelho (1890). O burgo até aí espartilhado pela apertada estrutura do Castelo, rompe as muralhas e alastra a sua malha urbana pelas encostas próximas que descem até ao Rio. Abrem-se novas estradas e edificam-se pontes, ligando-se zonas e lugares isoladas do perímetro concelhio. Saradas as grandes feridas deixadas nos vinhedos da região, pela fúria devastadora da filoxera, os tempos de abundância voltam às terras alenquerenses.

Anos volvidos, as fábricas da vila, envelhecidas face às novas tecnologias, vão perdendo a sua vitalidade e uma após outra vão encerrando os seus portões; primeiro a Fábrica do Meio, mais tarde a Romeira e por último a Chemina. Volta-se assim uma página concelhia.

Neste final de século e viragem do milénio, o Concelho de Alenquer prepara-se para as grandes alterações que já se desenham no horizonte.

Aqui se “cumpriu a história”, aqui se desenvolveram sucessivos ciclos agrários, aqui se vivem hoje os tempos de mudança.

Das históricas Quintas do sul do Concelho, desviadas da sua vocação agrícola, nelas nasceram pequenas e médias actividades industriais ou nasceram manchas urbanas de rápido crescimento.

Em contraste com a Zona Norte, o designado “Alto Concelho”, o núcleo vital da viticultura estremenha, mantém ainda viva a sua velha estrutura agrícola. Fazendas e Quintas ainda se animam com os ritmos sazonais dos trabalhos do amanho da terra, e as vindimas dão sinais de vida no tempo próprio. Apenas, aqui e além, um olhar mais atento notará indícios de crise…

Mas, a par disso, já se desenham também sinais de mudanças positivas. De facto, perdida a aposta da produção intensiva de vinho “a granel”, muitos dos nossos viticultores orientaram as suas produções para o mundo altamente competitivo e exigente dos vinhos engarrafados de marca. O sucesso desta proposta assinala a justeza da opção. A definição e o lançamento de “Rotas de Vinho e de Vinhedos” de âmbito concelhio, dão sinal de um outro tipo de divulgação e de “marketing” do nosso melhor produto agrícola: o vinho.

Alguns exemplos, ainda que tímidos, de “Turismo Rural” e de “Turismo de Habitação” são outros caminhos encontrados para o aproveitamento do nosso valioso conjunto de Casas Solarengas e Quintas Históricas, até agora caídas no esquecimento e votadas a um quase abandono destruidor.

A par destes outros valores do nosso património construído e do nosso ambiente natural, esperam o seu aproveitamento para um turismo cultural de qualidade onde os nossos monumentos e tradições e o extraordinário espaço da Serra do Montejunto serão elementos de maior valia.

A iniciativa privada terá neste campo uma importante palavra a dizer. A tal respeito, a recente entrada em actividade da Associação de Desenvolvimento Local de Aldeia Galega, pode construir um bom exemplo daquilo que uma proposta bem conduzida pode fazer em prol da renovação económica, social e cultural duma região.

O futuro desenvolvimento do nosso concelho terá de passar por estas e outras soluções e propostas, mas dependerá, acima de tudo, daquilo que a criatividade, o espírito de inovação e a capacidade empreendedora, podem trazer a estas terras montejuntinas, marcadas por milénios de culturas e de história.

(Revista Ascensão 2000)

VER TAMBÉM;

XIX Feira da Ascensão: O grande desafio 

XIX Feira da Ascensão (Memorial) 
XIX Feira da Ascensão (Aclividade Económica)
Feira da Ascensão (Um relance histórico de Alenquer) VOCÊ ESTÁ AQUI
XIX Feira da Ascensão (Álvaro Pedro, Presidente da Câmara Municipal de Alenquer)
XIX Feira da Ascensão (Luís Rema, Vereador das Feiras da Câmara Municipal de Alenquer)
XIX Feira da Ascensão (Vladimiro de Matos, Presidente da Direcção da ACICA)

 

 

 

 

 

in Jornal D’Alenquer, 1 de Junho de 2000, p

 

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