A Globalização da Complexidade (viii): A passagem da «escrita» para a «imagem» na Pós-modernidade

A Globalização da Complexidade (viii): A passagem da «escrita» para a «imagem» na Pós-modernidade

26/08/2019 0 Por hernani

 

Baseado na obra de Mike Featherstone

A Globalização da Complexidade (viii)
A passagem da «escrita» para a «imagem» na Pós-modernidade

“Há muito que distintos pensadores como Roland Barthes, Umberto Eco, Jacques Durant, Martine Joly, entre outros, se debruçaram sobre a temática “IMAGEM”, e apresentaram diversos modelos de análise, colocando a imagem como argumentação persuasiva, linha filosófica herdada da Antiguidade, quando Aristóteles condensou no livro “Arte Retórica” os seus fundamentos das teorias do discurso, estabelecendo desde logo aí os primeiros estudos formais sobre a construção do discurso persuasivo”.

in Hernani de Lemos Figueiredo, ”O que é a imagem?

 

Conforme já dissemos anteriormente, para Featherstone, uma das características marcantes do ciberespaço é as muitas maneiras de apresentar a informação; algumas vezes aumentando a sua complexidade, outras vezes reduzindo-a; ciberespaço, a que Pierre Lévy também chamaria de «rede» e, por ser o local de interconexão mundial dos computadores, num novo meio de comunicação (LÉVY, 1999 p. 17). Apelando a Machuco Rosa, sobre os grafos, redes e ideologia comunicacional, lembramos o que ele diz do processo mimético, neste caso referindo-se ao Windows. “A imitação é sempre a raiz” (…) retroacção positiva. “O modelo mostra ser perfeitamente concebível que os motivos que levaram um certo site a adquirir maior visibilidade nada tem a ver com um qualquer seu valor intrínseco que o diferencie dos demais” (ROSA, 2001 p. 159).


João Almeida Santos cita Humberto Eco: “O Computador é a civilização do alfabeto, tal como as civilizações do passado, da pirâmide à igreja barroca, foram civilizações da imagem”. (SANTOS, 1999 p. 193). “Temos de nos comunicar sempre, com cada vez mais frequência e eficácia”, diz-nos Felinto, que ainda lembra Sfez para quem a comunicação é o local de enraizamento de todas as tecnologias de vanguarda. (FELINTO, 2006). Felinto considera que “a cibercultura representa o instante supremo de realização da comunicação tecnológica: sem limites, sem fronteiras, sem ruídos – uma «comunicação total»” (FELINTO, 2006 p. 3).


Para Leandro Rosa, “a comunicação aparece no coração das nossas sociedades quando os acontecimentos tecnológicos se tornam politicamente mais decisivos do que os eventos ideológicos ou culturais” (ROSA, 2001 p. 131). “A miniaturização das tecnologias de comunicação, bem como a sua crescente mobilidade, presentes em equipamentos como os telemóveis, os PDA e os computadores portáteis tornaram a comunicação mediada um fenómeno tão ubíquo que já não é mais possível escapar à intimação da comunicação” (FELINTO, 2006 p. 3). Para Filipe Teixeira, “é a partir do desenvolvimento dos novos media e da cultura algorítmica que a categoria lúdica acaba por assumir contornos essenciais, tornando-se, por exemplo, num dos campos fundamentais em que se «joga» o problema da relação, e da experiência da mediação, entre o Homem e a técnica e da subjectividade mediada entre o Homem e os outros Homens, com base na técnica, designadamente, nos mundos simulados nos vários MUD e jogos «online». (TEIXEIRA, 2010).


«Comunicação» presume a existência de um «medium», de uma «mediação» entre o Homem e o mundo, e Filipe Teixeira leva-nos para a primeira «experiência humana» da «mediação tecnológica». “Na genealogia que nos trouxe até esta contemporaneidade, há que pressupor a própria génese da «experiência humana» da «mediação tecnológica», a qual se iniciou, com a própria «invenção da escrita», constituindo-se esse (…) o primeiro momento de epifania de uma nova consciência do Humano. “A invenção da escrita representa, sem sombra de dúvidas, um momento crucial na História da Humanidade e, em particular, da Comunicação”, diz-nos Filipe Teixeira. Da cultura do ouvido passámos para a cultura da visão: enquanto o ouvido tribaliza, o olhar analisa. Sobre este assunto, Filipe Teixeira acrescenta que “sendo o ouvido o nosso primeiro sentido de acesso e construção da linguagem, desde o nível onomatopeico, com a escrita passamos ao registo visual” (TEIXEIRA, 2010). Paulo Virílio adianta que “a escrita é a memória do «ser»; não existe «ser» sem memória. Assim, eliminar a escrita é eliminar a memória do «ser»; é matá-lo” (VIRÍLIO, 1998).


Com Gutenberg e a sua tipografia móvel “inventou-se o primeiro processador de texto, a primeira tecnologia de reproduzir palavras em massa”, acrescenta Felipe Teixeira. E continua, desta vez citando Abbott Payson Usher, para realçar que ela é “a linha divisória entre a tecnologia medieval e a moderna, constituindo, igualmente, o primeiro «bem» ou «artigo de comércio» a repetir-se ou reproduzir-se uniformemente (…) A esta dimensão do «humano-maquínico» presente na escrita, desde a alfabética à ideográfica, e com o desenvolvimento exponencial da indústria tecnológica e, sobretudo, computacional, surgiu, na cultura contemporânea, a categoria do lúdico (digital e vídeo)…” (TEIXEIRA, 2010).


A passagem da «escrita» para a «imagem» será um momento marcante na comunicação, até chegar à realidade virtual. “A realidade virtual baseia-se na digitalização das imagens fotográficas ou de outros tipos. Isso possibilita não só a reprodução e duplicação, a simulação de pessoas e coisas no “mundo real”, quanto facilita sua desconstrução e reconstrução para criar novas imagens e mundos – o “hiper-real”, a cópia sem original” (FEATHERSTONE, 1996). Assim como, mais tarde, será marcante a passagem do «analógico» para o «digital». Para Lev Manovich, por exemplo, essa transformação envolve, em última instância “(…) a tradução de toda a media existente em dados numéricos acessíveis por meio de computadores”. “O «digitalismo» constitui o instrumento unificador da visão de mundo cibercultural; se Lévy Strauss vislumbrava o binário como estrutura básica do funcionamento da mente humana, a cibercultura irá erigi-lo como novo idioma universal da sociedade tecnológica (FELINTO, 2006 p. 5).


Manuel Damásio afirma que “cada sistema de materialização possui convenções específicas e está dependente de um sistema tecnológico de produção” (DAMÁSIO, 2001 p. 66), e que “a interactividade envolve níveis de participação, de relacionamento com o conteúdo, de graus de complexidade e envolvimento, passíveis de apelarem a capacidades cognitivas inovadoras da parte do sujeito” (DAMÁSIO, 2001 p. 68). Pelo que “cada nova forma tecnológica de produção de representações e transmissão de conteúdos com sentido possui uma literacia específica. Essa forma de literacia específica não se refere à interpretação do sentido concreto apresentado pela media, esse processo de interpretação não é afectado, pelo menos no caso das tecnologias de informação e do audiovisual, pelo sistema ou pelo contexto de representação, mas sim ao domínio das competências de escrita necessárias à apropriação do media por parte do sujeito. Esta apropriação refere-se a uma capacidade de manipulação conducente à transformação da representação previamente apresentada” (DAMÁSIO, 2001 p. 66). Filipe Teixeira advoga que a nova noção de «experiência da mediação» obriga ao estudo crítico de novas formas de «literacia» e de «tecnognose».


A cibercultura, como a cultura contemporânea, neste sentido, não seria muito mais que uma outra expressão para designar a nossa complexa e intrigante pós-modernidade. (…) É um facto também que toda a cultura é, desde sempre, uma “tecnocultura, e que o componente tecnológico passa a ser pensado, reflexivamente, como o factor central determinante das vivências sociais, das sensorialidades e das elaborações estéticas. (FELINTO, 2006 p. 3).


Segundo Filipe Teixeira, a Cibercultura que é descrita de vários modos, como cultura electrónica, cultura de redes, cultura digital, emerge associada a este tipo de convergência e hibridismo, conceito elementar da vigente experiência dos media, e corresponde a um experimentalismo sismográfico, mapeando não uma região estável mas um espaço de «choque» (segundo Ballard) provocado pelas ondas que este registo binário e algorítmico está a provocar na experiência histórica. E que, desde Lévy e Castells, “a Cibercultura é o termo pelo qual se procura designar uma das mais recentes e pregnantes áreas de investigação nas Ciências da Comunicação. Por outro lado, diferentemente de dever ser entendida como «cultura pilotada» pela tecnologia e mesmo, eventualmente, pelo seu determinismo, o seu campo de investigação situa-se, algures, nas relações entre a cultura, a experiência e a técnica, em especial, do digital e do binário, nestes últimos tempos de «convergência» e «hibridismo». (TEIXEIRA, 2010).


Temos aí, de fato, um dado essencial: “na cibercultura, o valor supremo é a

informação representada numericamente”. Noutras palavras, “a cibercultura promoveu uma radical «informatização» do mundo – uma visão na qual toda a natureza, incluindo a subjectividade humana, pode ser compreendida como padrões informacionais passíveis de «digitalização» em sistemas computadorizados. (FELINTO, 2006).

 

Lisboa (Universidade Lusófona), 3 de Maio de 2011

TRABALHO COMPLETO

I – A Modernidade é um projeto da Revolução Industrial  – 

II- O Pós-modernismo é uma nova etapa do Capitalismo 

III – A Idade Moderna chegou ao fim e está aí a Idade Global  

IV – O Clube Bilderberg, um Governo Mundial Único

V – Os Descobrimentos Portugueses foram a primeira Globalização Moderna 

VI – O Posicionamento da Cultura na Híper Modernidade;

VII A cultura de consumismo no pós-Modernidade

VIII – A passagem da «escrita» para a «imagem» na Pós-modernidade  VOCÊ ESTÁ AQUI

IX – A Hipermodernidade, o pós-humano e a chegada do Cyborg   – 

X- A Modernidade é a industrialização da guerra  –

XI -Bibliografia

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2019)

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