Procissão do Senhor dos Passos: Milhares de fiéis em Alenquer

Procissão do Senhor dos Passos: Milhares de fiéis em Alenquer

19/03/2006 0 Por hernani

Milhares de fiéis, em Alenquer

Procissão do Senhor dos Passos

“Hoje, 350 anos volvidos, a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo de Alenquer retoma a sua missão”, e o Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Tomás da Silva Nunes, presidiu às cerimónias, que foram presenciadas por milhares de fiéis.

ALENQUER: 350 anos volvidos, a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo de Alenquer retoma a sua missão.

ALENQUER: 350 anos volvidos, a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo de Alenquer retoma a sua missão.

Alenquer tem a felicidade de albergar no seu seio algumas das mais antigas manifestações populares que acontecem no país, e que com o passar dos séculos perderam o seu cariz pagão e se transformaram em acontecimentos religiosos ou etnográficos.
Algumas delas adormecidas, como a Coroação do Divino Espírito Santo, talvez a mais emblemática de todas, que começou em Alenquer, com a rainha Santa Isabel, e que nos séculos XV e XVI serviu de paradigma à Epopeia dos Descobrimentos Portugueses.
Outras como o “Pintar e Cantos os Reis”, o “Leilão dos Cargos” ou a “Bênção do Gado”, que rejuvenesceram depois da publicação de “Alenquer e o seu Concelho”, da autoria de António Oliveira Melo, António Rodrigues Guapo e José Eduardo Martins.

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

Hoje iremos falar de uma outra, a “Procissão do Senhor dos Passos”, que saiu à rua neste domingo, 19 de Março de 2006; também ela, uma manifestação com séculos de existência e que faz precisamente 350 anos que saiu pela primeira vez sob os auspícios da “Irmandade de Santa Cruz e Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo de Alenquer”.
Esta procissão, que nunca deixou de se realizar desde que foi fundada, no século VXII, hoje teve a particularidade de ter ido resgatar algum do seu cunho penitencial primitivo, com a inclusão da paragem em cinco estações de meditação. O Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Tomás da Silva Nunes, presidiu às cerimónias, que foram presenciadas por milhares de fiéis.
Perde-se nos tempos a origem das celebrações penitenciais da Quaresma, e é necessário recuarmos até ao século IV para termos as primeiras informações. Nesse século, os romeiros iam à Terra Santa visitar os lugares santos onde ocorreram a paixão e morte de Jesus Cristo. Esse costume deu lugar à celebração da Via-Sacra, representando as etapas da Caminhada de Cristo a carregar a Cruz, fazendo leituras bíblicas e orações em cada estação; foi São Leopoldo de Porto Maurício que, no século XIV, no Coliseu de Roma, lhe deu origem, a pensar nos cristãos que se viam impossibilitados de irem em peregrinação à Terra Santa para visitarem esses lugares santos.

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

As manifestações de ritual eclesiástico desse tempo, foram confrontadas com o dramatismo e a ostentação teatral das celebrações extra-litúrgicas, principalmente das procissões da Quaresma, relacionadas ao aparecimento, no século XIII, das ordens religiosas que viviam da caridade pública, muito em especial da Ordem que São Francisco de Assis fundou em 16 de Abril de 1210.
Estes frades mendicantes tentavam incutir no povo os “grandes mistérios da Fé” com a encenação do Presépio (criação de São Francisco de Assis, no Natal de 1223, em Greccio), também da Via-Sacra e de autos sacros. Mais tarde, nos séculos XIV e XV, multiplicaram-se igualmente os cortejos de penitentes que praticavam a auto-flagelação. Foram estes arcaicos rituais que deram origem às procissões quaresmais portuguesas.
Quando fundaram, em Alenquer, o primeiro convento franciscano de Portugal, é suposto que os emissários de Assis também trouxeram esses “grandes mistérios da Fé”, como o Presépio e as devoções a Cristo Crucificado, no entanto só devemos situar a origem da Procissão dos Passos de Alenquer nos finais do século XVI.

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

É isso que nos diz Diogo Maleitas Corrêa: “a notícia mais antiga sobre a Procissão dos Passos de Alenquer e sobre uma irmandade a ela ligada data de 1656, quando a Irmandade do Santo Crucifixo do Convento de São Francisco de Alenquer faz uma petição à Câmara para que passasse a caber à Irmandade a organização da Procissão dos Passos. Esse importante documento informa-nos, por um lado, que a Procissão dos Passos estava plenamente enraizada na piedade alenquerense e, por outro, que existia uma irmandade ligada à devoção à Paixão de Cristo, em concreto ao Martírio da Cruz, devoção que está na génese do seu título – Santo Crucifixo, mais tarde Santa Cruz”.
A irmandade viveu dias de desafogo financeiro, atingindo o auge em meados do século XVIII, o que lhe granjeou prestígio e respeito, sendo prova disso as cinco “CAPELAS DOS PASSOS” fundadas pela Irmandade, e que eram idênticas às capelas dos PASSOS DE LISBOA, pertencente à Irmandade do Convento da Graça, a mais importante irmandade dos Passos de Portugal.

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

ALENQUER: Milhares de pessoas assistiram à Procissão dos Passos

Mas, os maus dias estavam à espera: a revolução liberal de 1822, a extinção das ordens religiosas, em 1834 e a implantação da República, em 1910, foram machadadas violentas na continuação da saída da Procissão. A maior tolerância pela igreja, verificada a partir de 1921 permitiu o seu regresso à rua, no entanto, somente circunscrita ao adro da igreja de São Francisco e, em 1924, até ao largo da Câmara. Até 1936 a Procissão não saiu da parte alta da Vila.
Foi a família Carmo que ao assegurar a realização da Procissão, permitiu que ao longo das décadas de quarenta e cinquenta do século anterior esta adquirisse novo fulgor. Na década de sessenta a Paróquia começou a organizar a Procissão, situação que se manteve até hoje.
Como diz Maleitas Corrêa, “hoje, 350 anos volvidos, a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo de Alenquer retoma a sua missão”.

 

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2006)

Director do Jornal D’Alenquer

in Jornal D’Alenquer, 19 de Março de 2006 (23:00), online

 

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