O dever de não esquecer

O dever de não esquecer

01/02/2000 1 Por hernani

Editorial:

O dever de não esquecer

Ao meu pai, Salomão de Lemos Figueiredo, para impedir que a “memória curta” dos homens o deixe cair no esquecimento.

 

SalomaoSalomão de Lemos Figueiredo, nasceu a 1912 e faleceu em 1977. Democrata e antifascista, amante da verdade e da liberdade, animador cultural, poeta popular, dramaturgo, ensaiador, preso político e revolucionário. Acreditou e defendeu ideias; nunca foi seguidor de homens.
Hoje ainda existem pessoas que recordam a facilidade com que escreveu “O Corridinho de Alenquer” e com muita emoção, alguma nostalgia e saudade, recitam, declamam e cantam alguns dos seus trabalhos.
De uma família tradicionalmente revolucionária, já o seu bisavô, Vicente Tibúrcio de Lemos e Figueiredo, como partidário do regime constitucional, e pelas atitudes assumidas em Alenquer (membro da Célula Revolucionária do Casal de Meca), foi julgado em processo-crime-político e condenado a degredo (1832).
Numa sociedade onde só a opulência tinha monumentos, a sua vocação poética esteve sempre ao serviço dos desprotegidos e oprimidos, satirizando e glosando a ditadura. Mesmo no isolamento do cativeiro, quando estava fechado numa cela, submerso até aos joelhos e a caírem-lhe pingos de água na cabeça, contrariou “que um homem a sós não pode saber se é ou não dotado de génio fecundo”. Aí compôs “O Poema do Legionário”, dedicado a um preso que se encontrava num cubículo vizinho e que tinha caído em “desgraça”.
Embora longe (Angola), vibrou e chorou com o 25 de Abril de 1974, pois viu terminada a época em que, quando a PIDE chegava a Alenquer, era o “comunista” Salomão de Lemos Figueiredo que eles encontravam e levavam.
Fez chorar e chorou; Encantou e ficou encantado com a simplicidade do povo; tomou parte no sofrimento de muitos homens e fez que alguns acreditassem na democracia e na liberdade. Cumpriu o seu papel.

“Onde jaz, Portugueses, o moimento
Que do imortal cantor as cinzas guardas?
Homenagem tardia lhe pagastes
No sepulcro sequer? Raça de ingratos!” (Paggi)

 

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2000)

diretor do Jornal D’Alenquer

in Jornal D’Alenquer de 1 de Fevereiro de 2000, p. 2 (Editorial)

hernani.figueiredo@sapo.pt

 

 

PS: Trabalho submetido ao “Concurso de texto jornalístico” da Junta de Freguesia de Triana, em 25 de Abril de 1999, cujo tema era “O 25 de Abril e a Democracia”. Foi excluído, sem qualquer aviso ao autor, por entenderem “não se enquadrar no tema imposto”. Questionados por terceiros disseram a uns que o trabalho tinha sido excluído porque “não respeitava o tema”, a outros que o “concurso era de poesia”. Justificações tanto débeis como pérfidas. Uma demonstração do pequeno caciquismo que se desejava ausente da nossa terra depois do 25 de Abril; caciquismo contra o qual Salomão de Lemos Figueiredo tanto lutou e que o levou à prisão por mais de uma vez. Mas, na mente de certos iluminados da nossa praça, é uma prática a preservar como paradigma. E quando essas pessoas estão na área do poder, a indignação ainda é maior. O Júri desse “Concurso de texto jornalístico”, que nunca se fez anunciar, como se de uma sociedade secreta se tratasse, era composto pelos senhores João Francisco Joel e António Santos, presidente e secretário da Junta de Freguesia de Triana, respectivamente. Este pequeno apontamento é só para que o acto destes senhores não caia no esquecimento.

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