António Rodrigues Guapo

António Rodrigues Guapo

01/12/2013 0 Por hernani

António Rodrigues Guapo

Quando, por toda a parte começou o despertar do gosto pelas histórias locais, pela Arte e pelas tradições, associado a uma consciência da urgente necessidade de inventariar, preservar e divulgar todos esses valores, uns quantos Alenquerenses mostraram-se interessados em preservar e elevar a «memória» do nosso concelho, António Rodrigues Guapo faz parte desse restrito grupo de pessoas. Em entrevista ao Jornal D’Alenquer (1.12.2000), Rodrigues Guapo confessou que sempre foi um apaixonado por história, e que a História sempre o fascinou, sempre foi qualquer coisa que lhe interessou desde miúdo e, enquanto estudante, era uma das disciplinas que o cativava mais. Ao fim e ao cabo, um fascínio que o acompanhou desde a sua terra natal, Barbacena, concelho de Elvas, onde nasceu a 31 de Maio de 1933.

Uma vida ligada ao ensino, «por vocação» como enfatiza com alguma vaidade. Era o gosto de ensinar; era o gosto de estar com as crianças. Começou em Lisboa, depois passou por Olhalvo, onde trabalhou cerca de trinta anos; sempre com crianças. Sente uma grande nostalgia desse tempo. «Nós, professores, os mais velhos, costumamos dizer que hoje as crianças são diferentes, e são na realidade. Há qualquer coisa que se modificou. Antes, eram mais interessadas. A escola era um mundo de sortilégio e tinha coisas que os encantavam; tinha novidades e, hoje a criança, não necessita delas. Hoje a criança não vai encontrar na escola livros mais interessantes dos que tem em casa, onde tem um televisor ou um computador que lhe diz muito e, na escola, tem um quadro negro, que só por grande insistência do professor, o faz aproximar dele. A escola tem vindo a perder, face a um adversário tremendo que é a vida paralela que corre ao lado e que nada tem a ver com o que se passa dentro da sala de aula. As alterações sociológicas que se têm verificado nos últimos anos, tem modificado o comportamento das crianças. Uma certa crise de relacionamento entre pais e filhos e entre professores e alunos, tem criado atritos que, realmente alguns deles, são de difícil solução». António Rodrigues Guapo encara a escola actual com um certo desencanto.

Assim que chegou ao concelho de Alenquer para leccionar em Olhalvo (1956), de imediato, se apercebeu que Alenquer era um mundo de interesse para a História Local e foi esse o factor principal que o motivou a escrever sobre Alenquer. Provavelmente, três quartas partes do seu trabalho escrito serão sobre Alenquer.

Investigador, historiador? «Ser-se historiador, é preciso ter uma dimensão cultural que eu não tenho. Remeto-me para uma posição de um autodidacta que sempre fui, e aquilo que se poderá dizer eventualmente é intitular-me como “estudioso”. Sou fundamentalmente um estudioso da história local; isso sou. Mas, fundamentalmente gosto de ser professor. Por vezes cai-se no erro de transformar toda a nossa vida numa “cátedra de ensino” e, sem darmos conta, encontramo-nos a ensinar coisas às pessoas, e isso é mau. Mas, visceralmente sou professor».

E investigador também, constatamos nós. «Sim, mas as minhas investigações têm sido muito modestas. Estou constantemente a aprender coisas sobre esta terra. É um manancial tão fecundo, que em cada dia que passa há sempre uma referência nova que se acrescenta e penso que nunca estará completo o painel da História local deste concelho, tão rico ele é, tão fecundo, tão significativo na sua diversidade».

Em paralelo com a sua actividade de professor, e logo escassos meses após a sua chegada, inicia um projecto, consistente e continuado, sobre o estudo e defesa do património cultural, artístico e etnográfico do concelho de Alenquer que culminou com a publicação de «O Concelho de Alenquer, Subsídios para um Roteiro de Arte e Etnografia», uma colectânea com quatro volumes, ainda hoje considerada uma obra clássica, que tem servido de ponto de partida para outros investigadores que procuram a história do concelho de Alenquer, e só comparada ao trabalho deixado por Guilherme João Carlos Henriques. Se neste processo, extenso e entusiasmante, contou com a colaboração de António de Oliveira Melo e do Padre José Eduardo Martins, houve outros em que «fez equipa» com outras pessoas igualmente interessadas nesta dinâmica, ou foi o protagonista único.

Enquanto professor, esteve ligado a duas editoras, onde numa das quais foi co-fundador. Com cerca de quinze títulos publicados de obras didácticas, tem também publicações dispersas por algumas revistas temáticas ligadas ao ensino. Para além dos vários livros consagrados ao concelho de Alenquer. A sua predisposição comunicacional também se fez sentir na imprensa regional onde, entre 1990 e 1993, manteve na Rádio Voz de Alenquer programas quinzenais sobre a história de Alenquer. Na imprensa escrita foi co-fundador do «suplemento» de artes e letras do Jornal «Badaladas», de Torres Vedras, onde escreveu assiduamente sobre temas de arte e etnografia. Também tem artigos dispersos noutros jornais regionais do Fundão e Alenquer, onde foi co-fundador do «Jornal de Alenquer» de que foi colaborador assíduo. No «Jornal D’Alenquer» (1.7.2005) deixou dois trabalhos sobre um texto de Cícero traduzido por Damião de Goes – Da velhice.

A actividade cénica sempre mereceu a sua atenção (desde o tempo de estudante, em Lisboa), onde esteve ligado a um teatro experimental. Passados três anos depois de ter chegado a Alenquer fixou residência em Olhalvo, e por uma série de circunstâncias, inclusive ter sido director de uma colectividade (Sociedade Filarmónica Olhalvense), levou-o a fazer uma das primeiras tentativas de teatro amador ao fundar o «Centro Cénico Olhalvense». «As pessoas realmente gostam de teatro amador», constata. Trabalhou ali duas ou três peças. Depois de fixar residência em Aldeia Gavinha continuou com a mesma paixão de «fazer» teatro amador. Grande impulsionar do Grupo Cénico Palmira Bastos e da Casa-Museu Palmira Bastos, em Aldeia Gavinha, António Rodrigues Guapo tem espalhado a sua «arte» cénica por muitos palcos, como autor, encenador ou executante; a maioria dos projectos de conteúdo popular mas também alguns de profunda essência religiosa. «Os Vindimeiros de Aldeia Gavinha» é outra faceta de Rodrigues Guapo, agora na música tradicional.

Mas António Rodrigues Guapo também é desenhador e pintor. Passou pela «belas-artes», por isso o seu interesse pela «história de arte». Não poderia passar sem estar envolvido na realização da «Bienal de Arte de Expressão Figurativa de Alenquer», onde habitualmente mostra alguns quadros seus.

A vida política não lhe poderia passar ao lado e, assim, durante 20 anos, a partir de 1974, envolveu-se na política e fez parte da Assembleia Municipal de Alenquer, sempre com uma grande atenção aos problemas culturais do concelho.

«Sou um razoável consumidor de certa poesia espanhola». E aqui a sua atenção vai para o «Romanceiro Cigano» e «Um poeta em Nova Iorque», de Frederico Garcia Lorca. Mas também aprecia a poesia de Juan Ramon Jiminez. Quanto à poesia portuguesa, os autores preferidos são Sofia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa e Florbela Espanca.

António Rodrigues Guapo, agraciado em 10 de Junho de 1993 com a Medalha de Mérito, grau prata, da Câmara Municipal de Alenquer, está convicto que o «Espírito Santo» terá nascido em Alenquer, não só a coroação como, inclusive, o início do culto, apesar de conhecer a teoria de Benavente». E sobre a vila de Alenquer: «Realmente é aquela terra linda que todos nós conhecemos, mas penso que valerá a pena, num quadro imediato, investir mais no seu embelezamento. Sei que, neste momento, existe uma convergência de vontades nesse sentido, mas, atrevia-me a perguntar: para quando uma melhor iluminação da Vila? Para quando uma melhor recuperação das fachadas dos prédios?»

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2013)

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