Damião de Goes, 500 anos depois

Damião de Goes, 500 anos depois

19/04/2018 1 Por hernani

 

Damião de Goes, 500 anos depois

Face à estranheza, e desconhecimento, por mim já testemunhado, de quem chega e não sabe, quem foi Damião de Goes (um visitante, na altura da última Feira do Vinho e do Cavalo, admitiu tratar-se de um companheiro de viagem de Pedro Álvares Cabral), talvez fosse oportuno completar, com alguns dados biográficos, a base onde se ergue a estátua do humanista.

 

Gravura em cobre atribuída a Albert Dürer

Damião de Goes, 500 anos depois
Gravura em cobre atribuída a Albert Dürer

Fui surpreendido, há dias, com uma notícia, do jornal “Diário do Minho”, lembrando que “em Fevereiro de 2002, faz 500 anos que, na vila de Alenquer, nasceu Damião de Góis”. O artigo, de duas páginas, assinado pelo Prof. Doutor Amadeu Torres, e ilustrado com uma vista geral de Alenquer, com a Igreja de São Pedro, onde repousam os restos mortais do humanista, com a sua estátua, inaugurada em 2000, e com a Igreja da Várzea, onde foi baptizado, diz que “a infeliz data que foi a dos 400 anos da sua morte ocorrida em 30 de Janeiro de 1574, data que afinal acabou por ser descomemorada sob os fluxos e refluxos da política em efervescência. Apesar de ter-se distinguido pela independência intelectual e pela defesa dos direitos de cidadania, havia então quem não apreciasse nada, antes pelo contrário, tais prerrogativas decorrentes da simples dignidade humana”. “Desta vez – acrescenta Amadeu Torres –, não custa pressagiar que Damião de Góis irá sentir-se ressarcido dos comportamentos irresponsáveis de há quase três décadas. Para já, sabe-se que a Academia Portuguesa da História agendou um congresso goisiano, para cujo brilho concorrerão os seus membros e outras personalidades convidadas. E Alenquer protestou, em 10 de Junho de 2000, por ocasião da inauguração da estátua ao filho mais ilustre da sua terra…”
Diz ainda o Professor ter lamentado, nesse dia, “que o Governo se tivesse ausentado para Viseu e ninguém se houvesse lembrado de que, numa inauguração como aquela, esse gesto soube a incompetência supina perante factos relevantes da nossa História, cujos vultos de escol aparecem não raro intervalados de séculos. Inclusive, o prof. Doutor Amadeu Torres, chama a atenção para o protesto que, em Editorial, no Jornal D’Alenquer de Julho de 2000, fiz da ausência ministerial.
É intenção da Câmara de Alenquer organizar, em 2002, alguns eventos alusivos aos quinhentos anos do nascimento de Damião de Goes, ao ritmo de um em cada dois meses, pelo que já está agendado, para Junho ou Outubro, uma peça de Teatro, sobre o humanista, da autoria do Prof. António Rodrigues Guapo, que conta com a colaboração, entre outros, de Manuel Gírio e de Álvaro Gomes. Também, em data dependente da estreia do teatro, haverá um Concerto de Música goesiana.
Com algum impacto “fora de muros”, e em parceria com a Biblioteca Nacional, vai decorrer entre Novembro e Dezembro de 2002 uma exposição com peças genuínas de Damião de Goes, que também estará presente na Biblioteca Nacional, durante um mês.
Fora do âmbito da Câmara de Alenquer, a Academia Portuguesa de História vai organizar um Congresso sobre Damião de Goes, onde se esperam as intervenções do Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão e do Prof. Doutor Amadeu Torres, entre outros. Também a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses vai organizar uma exposição itinerante sobre Damião de Goes (e sobre o matemático Pedro Nunes). Igualmente já está agendado, pelos CTT, para o dia 16 de Fevereiro de 2002, em Alenquer, o lançamento do primeiro dia de uma colecção filatélica alusiva à efeméride.
Diz o Professor que “não custa pressagiar que Damião de Góis irá sentir-se ressarcido dos comportamentos irresponsáveis de há quase três décadas”. Se for assim, só o deve aos alenquerenses, onde a Câmara de Alenquer está incluída, a alguns “amantes goesianos”, como o próprio Amadeu Torres e Joaquim Veríssimo Serrão, à Academia Portuguesa da História, aos CTT e poucos mais. Do Governo os “comportamentos” continuam a ser “irresponsáveis”, continuam a ser os mesmos “comportamentos de há quase três décadas”.
Ainda ontem, no encerramento do “Porto Capital Europeia da Cultura 2001”, assisti à ópera “Melodias Estranhas”, cujo libreto, da responsabilidade do escritor holandês Gerit Komrij, retrata a convivência entre os dois príncipes do Humanismo, Damião de Goes e Erasmo de Roterdão. Mais um acontecimento emblemático que deixou o Governo Português fora da corrida, pois, a inclusão de “Goes”, só aconteceu por imposição holandesa.
Hoje, novos protestos de vislumbram. Se, em 1974, não foi possível comemorar-se, com a dignidade que se impunha, os quatrocentos anos da morte de Damião de Goes, porque a época era pouco favorável a “sessões culturais de exaltação de heróis nacionais, sobretudo daqueles com quem Portugal contraíra, há séculos, maior dívida de gratidão”; se, em 2000, não foi possível ter, entre nós, a presença do Governo na inauguração da Estátua do humanista, verifica-se que, agora, não é possível ter “comemorações nacionais” do pentacentenário do seu nascimento, porque o Governo entende que “Damião de Goes não tem dimensão suficiente e não é uma figura determinante na História de Portugal que justificasse umas comemorações nacionais”.
Últimas palavras. Face à estranheza, e desconhecimento, por mim já testemunhado, de quem chega e não sabe, quem foi Damião de Goes, o alenquerense que ajudou a lançar os alicerces do humanismo e da erudição moderna em Portugal (um visitante, na altura da última Feira do Vinho e do Cavalo, admitiu tratar-se de um companheiro de viagem de Pedro Álvares Cabral), talvez fosse oportuno completar, com alguns dados biográficos, a base onde se ergue a estátua do humanista.
Para celebrar o pentacentenário do nascimento de tão ilustre alenquerense, o Jornal D’Alenquer vai abrir uma secção, convidando os seus leitores a escreverem artigos sobre Damião de Goes.
Que comentário tem a fazer à ausência de Comemorações Nacionais do pentacentenário do nascimento de Damião de Goes?

João Mário – Alenquer
João Mário_480x640Se não há comemorações nacionais, o que é uma lástima, acho que é dever da Câmara de Alenquer pressionar a quem de direito, para que elas aconteçam, porque Damião de Goes não é só uma figura de Alenquer: é, essencialmente, uma figura de Portugal.

 

Francisco Goes – Olhalvo
Damião de Goes tem sido uma pessoa esquecida, possivelmente até por questões políticas ou até mesmo por inércia das pessoas que deveriam ter essa responsabilidade. Se calhar, a Câmara, poderia ter pressionado mais o Governo para que houvessem Comemorações Nacionais.

 

Manuel Gírio – Alenquer
Manuel Girio_100Eu acho que é mal feito não haver comemorações nacionais. Damião de Goes é uma figura ímpar do nosso Renascimento. Acho que a Câmara deveria de fazer toda a pressão possível para que essa figura ímpar tivesse umas comemorações condignas.

Paulo Carvalho – Director da Biblioteca do Carregado
Paulo-CarvalhoSe houve para um Eça de Queiroz e não há para um Damião de Goes, penso que é uma atitude inconcebível. Já me tinha apercebido de que, se houvesse, seriam pouco significativas, devido ao silêncio das entidades responsáveis. Esta ausência de comemorações nacionais, no mínimo, é uma atitude sem desculpa do Ministério da Cultura.

Luís Rema – Vereador da Cultura
Luis-Rema_2O Governo tem a opinião de que Damião de Goes não é uma figura determinante na História de Portugal que se justificasse umas comemorações nacionais, embora o Ministro da Cultura se dispusesse a estar presente aquando de um dos eventos, em Alenquer. Para o Governo, Eça de Queiroz tem uma dimensão diferente da que tem Damião de Goes. Não o disseram taxativamente, mas foi o que deram a entender.
 
 

in Jornal D’Alenquer, 1 de Janeiro de 2002, p. 3
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2002)
director do Jornal D’Alenquer

 

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