Sessão evocativa da memória de Damião de Goes

Sessão evocativa da memória de Damião de Goes

01/07/2000 0 Por hernani

Sessão evocativa da memória de Damião de Goes

 

“Voto para que, por intervenção oficial ao mais alto nível, quando em 2002 comemorarmos o quinto centenário do nascimento de Damião de Goes, o dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas, honre sem a mornidão e certa espécie de complexo europeísta, de alguns destes anos, a nobre Vila de Alenquer, de onde um dia partiu Damião de Goes para ensinar a Europa a respeitar Portugal e curvar-se perante os seus valores, e a sua história, ele que foi não só cidadão do velho continente, mas é e continuará a ser um verdadeiro cidadão do mundo”

ALENQUER – 10 de Junho de 2010
Álvaro Pedro, Presidente da Câmara de Alenquer, e o Professor Amadeu Torres cumprimentam-se após a inauguração da estátua de Damião de Goes

No dia 10 de Junho, dia de Portugal, foi inaugurada a estátua de Damião de Goes, antiga dívida de Alenquer para tão ilustre figura. A anteceder esta cerimónia teve lugar no Auditório da Biblioteca Municipal de Alenquer a sessão evocativa da sua memória, com um público interessado e que teve como principal convidado o orador e Professor Doutor Cónego Amadeu Rodrigues Torres, o homem que correu a Europa percorrendo e indo aos mesmos lugares onde anteriormente Damião de Goes tinha estado. Álvaro Pedro, Presidente da Câmara, Carlos Cordeiro, Presidente da Assembleia Municipal e o Eng. Francisco Vaz Monteiro Goes du Bocage, Representante de Damião de Goes, acompanharam na “mesa” o distinto convidado. Também presentes José Núncio, escultor da estátua que se inaugurou, os vereadores camarários, presidentes das juntas de freguesia e muito público que encheu por completo o auditório. Aproveitando este acontecimento, a Câmara editou uma “Antologia de Textos Biográficos de Damião de Goes” da responsabilidade do Pe José Eduardo Martins, António Rodrigues Guapo e Fernando Pinto da Silva com ilustrações de João Mário, fotografias de Pedro Pires e apoio de Filomena Riso Nunes.
Álvaro Pedro abriu a sessão com as boas vindas aos presentes, seguindo-se uma ligeira palestra em que lembrou que Alenquer teve a felicidade de ser o berço de Damião de Goes, circunstância que a guindou ao conhecimento do mundo culto do seu tempo e que Damião de Goes é um esteio cultural que se aprende a conhecer como um dos mais distintos homens da sua época. Ficamos a saber que Álvaro Pedro convidou o senhor Ministro da Cultura mas, à última hora, foi surpreendido com a sua impossibilidade de estar presente. Todavia convidou outros amigos que gentilmente acederam em estar em Alenquer. É o caso do Dr. Amadeu Rodrigues Torres que proferiu uma brilhante palestra como a seguir se transcrevem alguns trechos.
“Já lá vão mais de 40 anos que eu comecei a pertencer à família de Damião de Goes. Percorri passo-a-passo, e por várias vezes, as peugadas desse maravilhoso vulto, iniciando um extraordinário convívio com o homem mais ilustre desta terra, que hoje solene e justissimamente glorifica na sua estátua…”

ALENQUER – 10 de Junho de 2010
Mesa da sessão evocativa da memória de Damião de Goes
Álvaro Pedro, presidente da Câmara de Alenquer, Prof. Amadeu Torres, conferencista e historiador, Eng. Francisco Goes, representante de Damião de Goes, e Luís Rema, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Alenquer

“…Na verdade, trata-se de um euro português, dos maiores e mais cultos, cinco séculos antes da Constituição da União Europeia, de um grande humanista, lúcido e operoso embaixador de Portugal dos Descobrimentos, cuja intervenção, nos múltiplos negócios da Corte, desde Antuérpia a Cracóvia, desde Roma aos Países Bálticos, desde Londres a Pádua, nunca prejudicou, antes pelo contrário, o seu polifacetado interesse pela cultura nessa época esplendorosa da Lisboa quinhentista. Na verdade, Damião de Goes não cursou filosofia, nem foi filósofo, mas foi conviver, ou simplesmente encontrar-se com mestres em artes …”
“…Não foi clérigo, cardeal ou monge, mas foi confidente de grandes vultos eclesiásticos, intermediário até, com se purpureado diplomata fosse, em negócios de especial melindre e interesse para a igreja, inclusive curioso em exortações ao próprio Papa, nas quais surge uma alma nobre de cavaleiro andante, da doutrina de Cristo, chamada Filosofia Cristã”.
“…Voluntariamente combateu por uma Lovaina apavorada, diante das tropas de Francisco I, de França. Não foi um político de carreira, mas soube mover os cordelinhos da política, dentro da vantagem e luto da pátria, que não tinha vergonha de pronunciar…”
“… Misto de cortesão de «cortilhone» e cidadão da Ilha da Utopia, um D. Quixote e também Sancho, homem medieval da crença religiosa; homem renascentista, pela atenção à praxis comercial, diplomática ou cultural, e não menos pela compreensão dialogante para com todos os crédulos, o que inocuamente lhe acarretou os cárceres da Inquisição. Humanista e Eragiano, com gosto pelo ciceronianismo, numa sociedade de ciceronianos literatos e eresianos reformadores, entre outros mais exaltados reformadores com que ele não concordava…”
“…Damião de Goes defendia que a acessibilidade da litologia, os livros e cursos deviam ser na língua nativa, porque o povo não percebe latim, o que se fez séculos depois, mas o erasmismo de Damião de Goes, ainda tem aspectos novos, sobre os quais nos obriga a reflectir. É hoje incontestável que Damião de Goes, foi um dos maiores e mais convictos erasmistas portugueses e manteve-se assim até ao fim, mesmo diante da Inquisição. Isto faz com que admiremos a coragem de um homem de um só parecer, como dizia Sá de Miranda…”
“…Como diz o Sr. Presidente da Câmara o maior filho desta terra, a uma pergunta da Inquisição: Que lhe parecera Lutero? Convivera com ele?, respondeu que sim, convivera com ele, mas sempre não concordando com as suas opiniões. Lutero tinha a sua opinião, ele, Damião de Goes, tinha a sua própria. E com Erasmo?, continuou a Inquisição. Erasmo era muito católico e cristão, e inimigo de Lutero, contra o qual publicara Sera arbitrum…”
“… Um símbolo eloquente do Portugal de Ourique e das sete partidas do mundo, o discípulo português mais cosmopolita do Renascimento. Na sua forma de agir, procedeu sempre como um autêntico homem do renascimento, norteado pela verdade, pela qual muito sofreu, por ter ousado pensar por si próprio. O seu erasmismo serviu de acusação para a sua condenação, porque a Inquisição confundiu erasmismo com luteranismo, e eram coisas muito diferentes…”
“…Não quero terminar sem um apelo e um voto, e pode ser diante, em espírito, do túmulo de Damião de Goes. O apelo torna-se desnecessário, pois visa a conglutinação de toda a cívica, de toda a vila e municipalidade do Concelho de Alenquer, para daqui a dois anos. O voto é o de que por intervenção oficial, ao mais alto nível, quando em 2002 comemorarmos o quinto centenário do nascimento de Damião de Goes, o dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas, honre sem a mornidão e certa espécie de complexo europeísta, de alguns destes anos, a nobre Vila de Alenquer, de onde um dia partiu Damião de Goes, para ensinar a Europa a respeitar Portugal e curvar-se perante os seus valores, e a sua história, ele que foi não só cidadão do velho continente, mas é e continuará a ser um verdadeiro cidadão do mundo”.
VER TAMBÉM

Sessão Evocativa da Memória de Damião de Goes (Você está aqui)

– Intervenção do Eng. Francisco Goes, representante de Damião de Goes
– Intervenção do Padre José Eduardo Martins
– Entrevista a… Prof. Amadeu Torres
– A estátua de Damião de Goes
– José Núncio, escultor da estátua de Damião de Goes
– Entrevista a… Carlos Bernardino Leite, fundidor da estátua de Damião de Goes
– Sr. Ministro da Cultura: por favor, demita-se

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2000)

diretor do Jornal D’Alenquer

in Jornal D’Alenquer, 1 de Julho de 2000, p. 4 a 7

 

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