Damião de Goes foi preso pelo Santo Ofício: faz hoje 448 anos.

Damião de Goes foi preso pelo Santo Ofício: faz hoje 448 anos.

04/04/2019 1 Por hernani

Damião de Goes foi preso pelo Santo Ofício: faz hoje 448 anos

Acusado de ser luterano, Damião de Goes é preso pela Inquisição a 4 de abril de 1571. Foi o culminar de uma campanha orquestrada pelo jesuíta Simão Rodrigues de Azevedo, seu parceiro de quarto, em Pádua. Faz hoje precisamente 448 anos. Esta efeméride não deverá ficar esquecida, e eu periodicamente trago-a à ribalta. A última vez que o fiz foi em 2012.

Foram três as denúncias feitas pelo jesuíta: a primeira, enquanto provincial da Companhia de Jesus em Portugal, dirige-se à Inquisição da cidade e disse que quando viviam ambos em Pádua, ouviu Damião de Goes dizer coisas que, quanto a ele, eram heréticas, como o louvar as doutrinas de Lutero e ter em grande consideração tal pessoa. Era sua opinião que Damião, neste seu regresso a Portugal, poderia “fazer muito dano acerca das coisas da nossa Santa fé católica, porque é homem avisado e sabe, além do latim, alguma coisa de Teologia e sabe a fala francesa e a italiana e a flamenga e a alemã pois andou muito tempo entre eles”. Afirma ainda que Damião de Goes era grande amigo de Simão Grineus, um hereje da maior reputação entre os luteranos, e também que falara com Lutero e fora discípulo de Erasmo.

A segunda denúncia de Simão Rodrigues é feita dois dias depois da primeira, quando de novo na Inquisição diz ter-se recordado de uma discussão, durante a qual um frade e Damião de Góis defendiam que a quebra do voto de castidade, por parte dos frades, não os impedia continuarem religiosos. E que ambos, sem dúvida eram luteranos e que procuraram induzi-lo a converter-se a tal seita.

Como destas duas denúncias nada resultara, cinco anos mais tarde, em setembro de 1550, desta vez em Lisboa, novamente vai à Inquisição confirmar tudo o que declarara em Évora e acrescenta ter-se lembrado de, em certo dia defeso da Igreja, os dois acusados encorajaram-no a ele, Simão Rodrigues, para que comesse queijos frescos e carne, a que se recusou, mas viu que ambos o faziam.

O prestígio de Damião de Goes era escudo suficiente para que algo perigoso resultasse destas denúncias. Foi precisamente a sua obra “CRÓNICA DE D. MANUEL” a responsável do retomar do processo por parte da Inquisição, pois nela não se amedrontou ao escrever e retratou os factos como eles se passaram, não bajulou o Cardeal D. Henrique, o patrocinador da obra, teve a ousadia de criticar a Casa de Bragança, não dando relevo aos seus membros, e resgatou a sua simpatia para com os cristãos etíopes.

Muita “afronta” para quem tinha em mãos o PODER, e a verdade é que cerca de vinte e seis anos passados sobre as primeiras denúncias Damião de Góis é preso. Estávamos a 4 de abril de 1571, faz hoje precisamente 448 anos.

É imensa a lista de nomes de acusadores, desde o poeta Pedro Andrade Caminha, Luís de Castro, genro do próprio Damião de Goes, o beato João Carvalho, entre tantos outros.

A 6 de dezembro de 1572, para se livrar de arder na fogueira, teve Damião de Goes de abjurar. Foi condenado a cárcere perpétuo e conduzido para o Mosteiro da Batalha, de onde saiu para a sua residência em Alenquer, numa data ainda não determinada.

Faleceu em Alenquer a 30 de janeiro de 1574.


Alenquer, 4 de abril de 2019

Hernâni de Lemos Figueiredo
©Hernâni de Lemos Figueiredo (2019)

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